As Nações Unidas anunciaram hoje que Angola vai receber 6 milhões de dólares (5,2 milhões de euros) para enfrentar os efeitos da seca extrema, que já provocou milhares de vítimas, nas províncias de Namibe, Huíla e Cunene.
A região sul da Angola “enfrenta seca extrema com milhares de vítimas” e, segundo o subsecretário-geral das Nações Unidas para os Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, a verba “visa impulsionar a resposta a crises subfinanciadas”, segundo uma nota da organização.
Um relatório do Governo angolano, de 16 de dezembro, sobre a situação da insegurança alimentar e nutricional aguda naquelas três províncias do sul do país salienta que 1,32 milhões de pessoas estão bastante afetadas, e até março de 2022 pode chegar aos 1,58 milhões.
Os dados constam do relatório, a que a Lusa teve acesso, realizado pelo Departamento Nacional de Segurança Alimentar, da Direção Nacional de Agricultura e Pecuária (DNAP), do Ministério da Agricultura e Pescas nas províncias do Cunene, Huíla e Namibe, entre março e maio de 2021, com inquérito em 17 municípios.
O documento, datado de agosto, apresenta os resultados da análise da Classificação das Fases de Insegurança Alimentar (IPC) e de desnutrição aguda causadas pela seca e outros fatores externos.
“Os resultados permitiram concluir que 1,32 milhões de pessoas enfrentam uma situação de insegurança alimentar aguda alta”, refere o relatório, indicando que este número corresponde a 49% da população “que carece de uma intervenção urgente”.
O documento realça que a seca observada nos últimos dois anos agrícolas, o contexto de crise económica desde 2014, o aumento do custo de vida e a crise pandémica da covid-19, desde março de 2020, resultaram no atual contexto de insegurança alimentar aguda nas três províncias.
De acordo com o relatório, a escassez de colheitas afetou gravemente o acesso das pessoas aos alimentos na região sul de Angola, com forte vocação agropecuária, agravando o estado nutricional da população.
“Com a tendência de redução acelerada das reservas alimentares, a situação tende a evoluir para o nível de crise alimentar, como revelam os dados apresentados no quadro”, alerta o documento, que acrescenta: “A assistência humanitária, até à próxima colheita, é uma ação necessária para evitar o agravamento da insegurança alimentar aguda das comunidades”.
A escassez de chuvas e efeitos recorrentes da seca, que reduziram significativamente a produção agrícola, a principal fonte de alimentos dos agregados familiares das zonas rurais, e causou perda de animais por falta de pasto e água, o aumento generalizado dos preços dos alimentos e a praga de gafanhotos em algumas comunidades são igualmente apontados como alguns dos fatores da atual situação.
No que se refere à desnutrição aguda, a metodologia de análise IPC indica que em 10 municípios elegíveis das três províncias 11.400 crianças, entre os 6 e 59 meses sofrem ou poderão vir a sofrer deste mal nos próximos 12 meses e necessitarem de tratamento.