A massa monetária (dinheiro em circulação) registou um ligeiro aumento (2%) em Março último, face a Fevereiro do corrente ano, passando de 368,7 mil milhões de Kwanzas para cerca de 361,04 mil milhões Kz, segundo cálculos do Mercado com base nos dados disponibilizados no website do Banco Nacional de Angola (BNA).
O ligeiro aumento do dinheiro em circulação no mês de Março, de acordo ainda com os cálculos do Mercado, foi de pelo menos 7,7 mil milhões Kz.
Apesar deste aumento (aproximadamente 2%), foi em Janeiro que o público teve mais dinheiro, cerca de 373,7 mil milhões Kz, como indicam as estatísticas monetárias do banco central. Mas, em Fevereiro o BNA tirou de circulação perto de 3,5% do montante do primeiro mês do ano, restando 361,04 mil milhões Kz.
Face aos dados acima, o banco central (instituição com o dever de assegurar a preservação do valor da moeda nacional e proceder à execução, acompanhamento, assim como o controlo das políticas monetárias) reduziu a liquidez, num montante calculado em pelo menos 12,6 mil milhões Kz.
Em Março reforçou a liquidez, metendo em circulação quase 7,7 mil milhões Kz. Apesar do aumento, a cifra de Janeiro foi a maior do primeiro trimestre de 2021, como se pôde constatar nas estatísticas monetárias do banco central.
Para Daniel Sapateiro, economista, a situação pode ser entendida pela meta governamental de redução da inflação.
“Essa estratégia integra o pacote de mecanismos de política monetária usados pelo regulador a fim de garantir a preservação do valor do Kwanza”.
Justificando o argumento, disse que o Kwanza face ao Dólar americano terminou o ano com a cotação de 650,28 e para o Euro 793,18. Actualmente o câmbio USD – KZ é de 645,06 e EUR – KZ é de 779,29. “O Kwanza valorizou-se nos primeiros quatro meses do ano em 0,8% (USD – KZ) e 1,75% (EUR – KZ)”.
Pode concluir-se, afirmou, que por haver menor massa monetária em circulação os agentes económicos têm em posse menor quantidade de dinheiro para a aquisição de bens e serviços, bem como a compra de divisas. Com isso se cumpre um dos objectivos do regulador (BNA) que define os objectivos da política monetária.
“Com menor quantidade de dinheiro, os consumidores consomem menos bens e serviço e isso faz, de facto, reduzir a taxa de inflação de origem interna. Pois, os bens, as mercadorias, por exemplo, levarão mais tempo para serem vendidas e consumidas. Isto na óptica do consumo e do consumidor”, disse.
Na óptica do importador e comerciante, explica, aplica-se o contrário, pode gerar alguma prudência nas compras para os seus estabelecimentos, compras internas ou por via da importação, “gerando aqui ‘obstáculos’ ao ciclo económico das empresas, levando a outros factores e distorções que merecem uma análise noutra oportunidade.
Porfírio Muacassange, também economista, considera que a redução da massa monetária é compaginável com os objectivos da política monetária contraccionista que vem sendo adoptada pela entidade monetária do país (BNA), visando a redução dos índices de inflação de 25% em 2020 para uma meta homóloga de 18% em 2021 e garantir a preservação do valor da moeda nacional.
“Esta contracção está também relacionada com necessidade de o BNA esterilizar o impacto das operações fiscais e cambiais sobre as metas monetários”, disse o economista.
Embora possa ter efeitos positivos na contraposição das pressões inflacionistas, e na estabilidade da taxa de câmbio com eventual apreciação do kwanza, argumenta, é evidente que nos médio e longo prazos a política monetária contraccionista tem efeitos negativos sobre o nível de actividade económica, uma vez que tende a contrair o nível do consumo das famílias e das empresas.
“O que impactará na redução da demanda agregada e consequentemente na contracção da produção, desincentivando novos investimentos na produção de bens e serviços, com consequências no nível de emprego, já escassos na nossa economia”, declarou.
Também disse que no âmbito da operacionalização da política monetária, o BNA controla a M2, ou seja, a quantidade de moeda em circulação (dinheiro em poder do público + depósitos à ordem) na economia, através do controlo da base monetária, sendo que um aumento sinaliza uma Política Monetária (PM) expansionista, e o inverso, uma PM contraccionista.
Dados referentes às “estatísticas monetárias publicados na página do BNA, registou-se uma diminuição da quantidade de moedas em circulação em 8,87% no I trimestre de 2021, em relação ao último trimestre de 2020, tendo saído de 404 597 milhões de kwanzas (dezembro) para 369 714 milhões de kwanzas (março 2021) respectivamente”.