O representante do FMI em Angola alertou hoje para a capacidade de endividamento “muito limitada” do país africano, sublinhando que qualquer iniciativa de financiamento deve ser vista “de forma muito cautelosa” e aplicada em projetos com retorno económico adequado.
“Cada vez que há um choque nos preços do petróleo isso gera desafios enormes para as finanças públicas. Por isso, qualquer iniciativa no sentido de se obter linhas de financiamento para o Governo angolano deve ser vista de forma muito cautelosa”, afirmou, apelando a que os recursos sejam aplicados para que tragam um retorno económico adequado.
O responsável do Fundo Monetário Internacional reforçou que, quer se trate de emissão ou contratação de linha de financiamento tem de ser “muito cautelosa” considerando os níveis elevados da dívida.
“É preciso vir para Angola com mais `equity` e que efetivamente invistam em Angola, porque dívida Angola já tem suficiente“, destacou, acrescentando que os recursos devem ser aplicados de forma a garantir retorno económico adequado, em investimento público que tenham um retorno “razoável” e tragam benefícios para a economia e a população angolana.
Já que os recursos são efetivamente escassos, a escolha dos projetos deve ser feita de forma muito criteriosa, considerando todas as dificuldades, não apenas económicas, mas que dizem respeito à população angolana, realçou.
O economista assinalou que o executivo tem sido “muito prudente nas contas públicas” e que fez um “esforço hercúleo no sentido de diminuir as despesas”, mas “infelizmente” as receitas sofreram também um impacto bastante negativo devido aos efeitos da pandemia de covid-19 e à forte dependência do petróleo.
O FMI concluiu recentemente a 5.ª avaliação do programa económico de Angola, apoiado por um acordo estendido no âmbito do Programa de Financiamento Ampliado, o que permitiu mais um desembolso de cerca de 770 milhões de dólares (647,7 milhões de euros).
Marcos Souto saudou o compromisso do executivo angolano com as reformas estruturais “difíceis” e com a estabilização da economia, salientando que FMI e governo mantém uma “relação muito construtiva”, embora nem sempre estejam de acordo.
Adiantou que a perspetiva macroeconómica é de melhoria, associada à subida do preço do petróleo, mas a médio prazo permanecem desafios devido ao grau de incerteza provocado pela covid-19
Outro dos desafios é a elevada inflação, em torno dos 25%, que dificulta um crescimento económico sustentável, apesar da política monetária restritiva que tem sido conduzida pelo banco central angolano.
O potencial impacto negativo do aumento da taxa de juro decidido na última reunião do Comité de Política Monetária do Banco Nacional de Angola “está a ser monitorado”, afirmou.
“É um equilíbrio muito delicado. Por um lado, suportamos os esforços do banco central para ancorar as expectativas inflacionárias, mas não se deseja com isso que a atividade económica seja sufocada, daí a importância de continuar as reformas estruturais”, detalhou o responsável do FMI.
Marcos Souto considerou que a retoma da atividade não petrolífera tem acontecido a um ritmo mais lento do que seria desejável e apontou riscos significativos, apesar da melhoria do ambiente externo: níveis elevados da divida, volatilidade dos preços do petróleo, bem como a evolução da pandemia, em particular os feitos da nova variante Delta apesar do investimento na vacinação.
“Apoiamos integralmente, inclusive, se necessário em termos de espaço orçamental, o que as autoridades julgarem necessário para garantir a vacinação da sua população”, afirmou.