A Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) de Angola convocou uma assembleia-geral para eleger novos órgãos de direção, que a ala reformista, liderada pelo bispo Valente Bizerra Luís contesta, alegando falta de legitimidade e ameaçando agir judicialmente.
A disputa pela liderança e legitimidade de representar a instituição, fundada pelo brasileiro Edir Macedo, em Angola, conheceu hoje novos desenvolvimentos, depois de na quarta-feira a ala brasileira ter anunciado uma nova direção exclusivamente composta por cidadãos angolanos, passando a ter à frente dos seus destinos, o bispo Alberto Segunda, que substitui o brasileiro Honorilton Gonçalves
Na mesma ocasião, a IURD informou que iria cumprir os trâmites legais e estatutários “com vista a ser convocada uma reunião extraordinária da assembleia-geral da associação com o objetivo de eleger novos membros, cidadãos angolanos, do conselho de direção e da mesa da assembleia-geral”, marcada para 04 de junho às 10:00.
Além deste ponto, constam da ordem de trabalhos da convocatória assinada pelo presidente da mesa da assembleia-geral, bispo João Mário Correia, a discussão e votação da proposta de alteração dos estatutos da IURD Angola, bem como a apreciação sobre a “pretensa assembleia-geral da IURD” que foi convocada para 13 de fevereiro de 2021.
A legitimidade desta assembleia-geral foi na altura contestada pela IURD Angola, da qual saiu a ala dissidente, entretanto legitimada a nível governamental.
A IURD Angola diz que a irregularidade na convocatória “levada a cabo por sujeitos que não são membros da IURD, não integram os seus órgãos sociais e, dessa forma, não tem quaisquer poderes de representação da mesma, determina a inexistência ou, pelo menos, a nulidade das deliberações que aí foram pretensamente adotadas.
Argumentos que a ala reformista, também intitulada IURD Angola, que o Governo reconheceu como legítima, rejeita, tendo hoje emitido um comunicado em que repudia a convocatória assinada pelo bispo João Mário Correia, da ala de origem brasileira.
A IURD Angola reformista alega ser a única instituição “devidamente reconhecida e legalizada, devidamente representada nos termos da assembleia-geral extraordinária realizada no dia 13 de fevereiro de 2021”, na qual foi eleito Valente Bizerra Luís, e salienta que este foi reconhecido pelo Ministério da Cultura e o Instituto Nacional para os Assuntos Religiosos (INAR).
Apela, por isso, ao não reconhecimento de atos que não sejam oriundos da atual direção da IURD e seus representantes legais “porquanto não são reconhecidas pelo Estado angolano” e “estão eivadas de nulidade e ainda feridas de ilegalidade”.
“Qualquer tentativa de convocar assembleias, tomar decisões, fazer comunicados ou qualquer outra atitude que não sejam por parte da atual direção desta instituição e dos seus representantes legais devidamente eleitos na assembleia” de fevereiro “e reconhecidos pelo Estado angolano são ilegais e passíveis de processo criminal, devendo por isso ser imediatamente denunciadas para o devido procedimento criminal”, sublinha a nota.
O documento acrescenta que “a pretensa assembleia-geral extraordinária” não deverá ser reconhecida por estar “despida de qualquer legalidade e eivada de vícios” e ser convocada por quem não tem legitimidade para o efeito e também por violar os estatutos da instituição, não podendo ser reconhecida pelas autoridades angolanas.
Os conflitos entre a ala brasileira e a ala angolana da IURD em Angola arrastam-se desde finais de 2019, com trocas de acusações mútuas e processos judiciais em curso.
Recentemente quatro dirigentes da ala brasileira da IURD em Angola, incluindo o ex-representante máximo, foram acusados dos crimes de branqueamento de capitais e associação criminosa, segundo o Serviço de Investigação Criminal.