Meia centena de missionários brasileiros afetos à antiga liderança da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) em Angola estão a ser notificados para abandonar o país no prazo de oito dias, noticia o Jornal de Angola.
A informação foi avançada ao jornal pelo porta-voz do Serviço de Migração e Estrangeiros (SME), que justificou a decisão com a situação migratória irregular dos missionários.
O comissário Simão Milagre indicou que o SME recebeu da Igreja Universal do Reino de Deus em Angola uma lista com 51 missionários brasileiros com vistos de permanência no país caducados.
“Não posso confirmar se são bispos, pastores ou obreiros”, disse.
Em declarações à Rádio Nacional de Angola, o pastor brasileiro Valdir de Sousa, que encabeçou uma delegação que se deslocou ao SME, confirmou que recebeu a notificação das autoridades.
“Recebemos a notificação de abandono do país e temos oito dias para sair de Angola, porque, supostamente, a Igreja Universal do Reino de Deus já não está a renovar as cartas de chamada para missionários brasileiros”, contou.
Porém, o porta-voz da Procuradoria-Geral da República (PGR), Álvaro João, disse que a instituição ainda não foi notificada sobre a situação.
“Depois de ouvirmos a notícia, contactámos os nossos representantes junto do Serviço de Investigação Criminal, bem como os destacados no Serviço de Migração e Estrangeiros, que disseram que ainda não foram notificados”, frisou.
Álvaro João acrescentou que, caso a lista chegue à PGR, os missionários que estejam implicados nalgum crime ou em situação de declarantes permanecerão no país até à conclusão dos processos.
Neste momento, correm nos tribunais angolanos vários processos judiciais relacionados com a IURD em Angola.
A polémica estalou depois de um grupo de dissidentes se afastar da direção brasileira, em novembro de 2020.
As tensões agudizaram-se em junho, com a tomada de templos pela ala reformista, entretanto constituída numa Comissão de Reforma de Pastores Angolanos.
As duas fações têm trocado acusações mútuas sobre a prática de atos ilícitos.
Os angolanos, liderados pelo bispo Valente Bezerra, afirmam que a decisão de romper com a representação brasileira, encabeçada pelo bispo Honorilton Gonçalves, fiel ao fundador da IURD, Edir Macedo, se deveu a práticas contrárias à religião (vasectomia, castração química, racismo, abuso de autoridade, evasão de divisas, entre outras).
A IURD Angola nega as alegações e, por seu lado, acusa os dissidentes de “ataques xenófobos” e agressões a pastores.
O conflito deu origem à abertura de processos-crime na PGR de Angola e subiu à esfera diplomática, com o Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, a pedir ao seu homólogo angolano, João Lourenço, garantias de proteção dos pastores brasileiros e do património da IURD.
O chefe de Estado angolano prometeu que o caso teria “tratamento adequado” na justiça.
Gime Inácio, porta-voz da Igreja Universal do Reino de Deus em Angola, confirmou que os 51 missionários da lista enviada ao SME têm os vistos expirados.
O pastor esclareceu que a nova direção não tem nada contra os missionários brasileiros ou de qualquer outra nacionalidade, desde que estes se revejam na reforma da igreja.
Segundo a mesma fonte, apenas um casal de pastores brasileiros manifestou interesse em aderir à reforma, estando em curso os trâmites legais para prolongar a sua permanência no país.
Já a porta-voz da ala brasileira da IURD em Angola, Ivone Teixeira, confirmou que foram notificadas sete famílias, com 14 integrantes, entre pastores e obreiros.
Segundo a agência de notícias Angop, a IURD retomou em março os cultos em Angola, com exceção da província de Lunda Sul, após um ano de fecho por causa da pandemia de covid-19, primeiro, e do conflito interno, depois.
Os templos da IURD estavam encerrados desde setembro de 2020, na sequência de investigações das autoridades judiciais angolanas a supostos crimes cometidos por bispos e pastores da antiga direção.
A reabertura dos templos ocorre depois da confirmação, pelas autoridades angolanas, da nova direção da igreja, coordenada pelo bispo Valente Bizzerra Luís.
A IURD em Angola acusou anteriormente as autoridades judiciais angolanas de terem feito apreensões ilegais e atentarem contra a liberdade religiosa.