A UNITA, partido na oposição angolana, descartou hoje avançar com qualquer queixa-crime aos órgãos judiciais contra as acusações imputadas ao seu líder, Adalberto Costa Júnior, considerando que qualquer ação do género seria “contribuir para a palhaçada”
“Há um ditado que diz que você não vai queixar o porco ao javali. Como é possível acreditar num poder judicial que elege um presidente da CNE (Comissão Nacional Eleitoral) de forma fraudulenta? Acha que nós seriamos sérios se levássemos participações a um poder judicial que age desta forma?”, comentou hoje o deputado da UNITA, Liberty Chiyaka, quando questionado pela Lusa.
Supostos atos de “tribalismo, intrigas e desvios de fundos” têm sido atribuídos ao presidente da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), maior partido na oposição angolana, Adalberto Costa Júnior (ACJ).
A “legitimidade e legalidade” do 13.º Congresso da UNITA, que elegeu Adalberto Costa Júnior, e a sua nacionalidade têm sido igualmente questionados de forma recorrente, sobretudo nas redes sociais, bem como alegadas dissidências internas contra o presidente do partido tornadas públicas por ex-militantes.
Na semana passada, o MPLA (partido no poder) negou estar ligado aos “níveis de contestação à liderança de ACJ ou à convulsão interna que se regista no seio do partido”, afirmando que a UNITA se estava a socorrer do MPLA para justificar “o absoluto descontrolo em que se encontra”.
No mesmo comunicado, o MPLA disse que “não precisa de pagar a militantes desavindos da UNITA para fazer o que quer que seja” e vincou que não se revê em tais condutas, demarcando-se “em absoluto de práticas de baixo nível e de absoluta intolerância como as que a UNITA usa e sempre usou na sua estratégia, desde a sua fundação”.
O Tribunal Constitucional (TC) angolano, explicou hoje Liberty Chiyaka, esteve presente no congresso da UNITA e confirmou a legitimidade e legalidade do 13.º Congresso.
[E agora] aceita receber uma suposta queixa de um grupo de cidadãos que foram manipulados por ilustres dirigentes do MPLA. Acha que isto é sério?”, questionou.
“Nós vamos fazer uma participação a um órgão como este? Estaríamos a contribuir para a palhaçada. Temos muito respeito pelos angolanos, temos muito respeito pelos profissionais da justiça, mas não os vamos maçar porque vão prevalecer as ordens superiores, infelizmente é isso”, atirou.
Para o também presidente do grupo parlamentar da UNITA, que falava hoje em conferência de imprensa, as acusações contra o presidente do seu partido resultam de uma “agenda do Estado que passa por combater todos os dias Adalberto Costa Júnior”.
Os principais recursos do Estado, afirmou, “são canalizados para esta perspetiva: combater o presidente da UNITA”.
Falando em conferência de imprensa, sobre a crise de confiança nas instituições públicas, o político da UNITA considerou que a governação do Presidente angolano, João Lourenço, “fracassou” e o líder da UNITA foi o “bode expiatório para distrair a atenção das pessoas”.
“Porque fracassada a governação do Presidente João Lourenço, os angolanos, a sociedade, particularmente a juventude angolana, identifica a UNITA e o seu líder como alternativa credível à governação do PR João Lourenço e surge uma estratégia de gestão do poder”, disse.
A UNITA, argumentou ainda, “estaria a contribuir para a estratégia do regime se todas as vezes que surgisse uma acusação saíssemos a correr, o tempo faz questão de desgastar, o tempo é o grande mestre”.