Os desvios da Sonangol, a participação na Galp, o empréstimo da Unitel, os diamantes da joalharia e o terreno em Luanda. Conheça os cinco negócios expostos no Luanda Leaks.
O desvio de dinheiro da Sonangol
- A compra da participação na Galp
- O empréstimo da Unitel
Em 1999, José Eduardo dos Santos atribuiu a licença à Unitel, a maior empresa de telecomunicações de Angola. Em 2000, Isabel dos Santos adquiriu 25% da empresa, uma posição que é, atualmente, avaliada em mil milhões de dólares e que já garantiu à empresária outros mil milhões em dividendos.
Ora, já enquanto acionista da Unitel, a empresária constituiu uma nova empresa, chamada Unitel International Holdings. Apesar de ter o nome “Unitel”, as duas companhias não tinham qualquer relação, sendo esta última totalmente controlada por Isabel dos Santos.
A empresária conseguiu à verdadeira Unitel um empréstimo de 350 milhões de dólares para a Unitel International Holdings. E a própria Isabel dos Santos deu “luz verde” ao empréstimo do lado da empresa que emprestou e da que recebeu o empréstimo, alega a BBC, que refere tratar-se de um claro conflito de interesses.
A empresária garante, no entanto, que o empréstimo foi aprovado pelas administrações de ambas as companhias, e que o empréstimo protegeu a Unitel de eventuais flutuações cambiais.
- A aquisição de uma joalharia
Outro negócio suspeito envolve, mais especificamente, Sindika Dokolo, o marido de Isabel dos Santos.
Segundo a BBC, em 2012, Dokolo fechou um acordo com a empresa estatal angolana Sodiam, que explora o negócio dos diamantes, para formarem uma parceria para comprar a joalharia de luxo suíça De Grisogono. Apesar de pressupor uma parceria “a meias”, a Sodiam pagou a “fatura”.
18 meses após o fecho da compra da De Grisogono, a Sodiam já tinha investido 79 milhões de dólares na parceria, enquanto o marido de Isabel dos Santos investira apenas quatro milhões. Dokolo beneficiou de uma sucess fee de cinco milhões de dólares, pelo que acabou por não ter de investir capitais próprios.
Mas os documentos do Luanda Leaks expuseram um negócio ainda mais lesivo para os cofres públicos de Angola. Na verdade, a Sodiam pagou a joalharia com recurso a um empréstimo do banco português EuroBic com juros de 9% e com garantia estatal, atribuída por decreto assinado pelo pai de Isabel dos Santos, que era, então, presidente de Angola. Isabel dos Santos controla, pelo menos, 42,5% do banco.
Essa garantia, mais tarde, foi mesmo acionada. Segundo a BBC, o novo líder da Sodiam, Bravo da Rosa, estima que a empresa de diamantes terá perdido “mais de 200 milhões de dólares” com esta operação.
Durante a presidência de José Eduardo dos Santos, o chefe de Estado também terá dado a Sindika Dokolo os direitos de compra de alguns diamantes em bruto encontrados em solo angolano, a preços inferiores ao valor de mercado, lesando os cofres públicos em “mais de mil milhões de dólares”, segundo estimativas do atual Governo.
Isabel dos Santos nega ter qualquer relação com a De Grisogono. Mas os documentos do Luanda Leaks mostram que a empresária angolana é acionista da joalharia.
- O terreno privilegiado em Luanda
Os documentos expostos no Luanda Leaks mostram também como Isabel dos Santos terá adquirido terrenos ao Estado angolano em setembro de 2017, com a ajuda de decretos presidenciais assinados pelo pai e pagando abaixo do valor de mercado.
A BBC conta como uma empresa de Isabel dos Santos adquiriu um terreno com área de um quilómetro quadrado em Luanda, numa localização de luxo, à beira-mar. Um documento mostra que o terreno valia 96 milhões de dólares, mas que Isabel dos Santos pagou 5% desse valor, comprometendo-se a investir o remanescente num novo empreendimento.
A cadeia britânica explica que cerca de 500 famílias angolanas foram “despejadas” das suas habitações e relocalizadas numa urbanização precária e isolada a 50 quilómetros da capital angolana. As condições são “desesperantes”. As casas, frequentemente inundadas pelo esgoto, estão perto de uma fossa a céu aberto.
Isabel dos Santos nega que cidadãos tenham sido “despejados” com este negócio e garante que as suas empresas nunca receberam qualquer montante, até porque o empreendimento acabou por ser cancelado.