Em decorrência do furacão Lussati, a 24 de Maio, o Presidente da República procedeu às exonerações dos Tenentes Generais Ernesto Guerra Pires, do cargo de Consultor do Ministro de Estado e Chefe da Casa de Segurança do Presidente da República, Angelino Domingos Vieira, do cargo de Secretário para o Pessoal e Quadros da Casa de Segurança do Presidente da República, José Manuel Felipe Fernandes, do cargo de Secretário-Geral da Casa de Segurança do Presidente da República, João Francisco Cristóvão, do cargo de Director de Gabinete do Ministro de Estado e Chefe da Casa de Segurança do Presidente da República, Paulo Maria Bravo da Costa, do cargo de Secretário para Logística e Infraestruturas da Casa de Segurança do Presidente da República e do Brigadeiro José Barroso Nicolau, do cargo de Assistente Principal da Secretaria para os Assuntos dos Órgãos de Inteligência e Segurança de Estado da Casa de Segurança do Presidente da República.
Transcorridos quatro dias, a 28 de Maio, o Presidente da República exonerou o director do Gabinete de Estudos Estratégicos da Casa de Segurança, Daniel Mingas Casimiro.
A 31 de Maio, o Presidente da República procedeu à exoneração do Ministro de Estado e Chefe da Casa de Segurança do Presidente da República, o general Pedro Sebastião (consta que a exoneração aconteceu depois de, na manhã do mesmo dia, o general ter-se deslocado ao Gabinete do Presidente, a quem informou que colocava o cargo à disposição, no que o Presidente anuiu).
Aparentemente, não há nada de estranho nesta sucessão de factos, mas há. E o problema reside no facto de o Presidente da República não ter exonerado o adjunto de Pedro Sebastião, o general Sequeira Lourenço, ou seja, ele exonerou todos os responsáveis dos diversos departamentos da Casa de Segurança menos o número 2, que é irmão dele. Mais do que este detalhe – já ‘de per se’ revelador – analisemos o seguinte.
1. O irmão do Presidente da República chegou à Casa de Segurança na época em que era chefe da mesma o general Hélder Vieira Dias Kipelipa;
2. As maiores maracutaias e trapaças financeiras operadas na Casa de Segurança do Presidente da República ocorreram entre 2011 e 2017 – quando era Presidente o Homo corruptus, José Eduardo dos Santos. Neste período, Sequeira Lourenço era Chefe Adjunto e Secretário Executivo da Casa.
3. No mesmo período, nenhum dos generais exonerados no dia 24, e agora sob investigação da Procuradoria Geral da República, tinha qualquer vínculo com a Casa de Segurança do Presidente da República.
Então, só se pode perguntar: o irmão do Presidente da República é a única figura proba, isto é, honesta, da Casa de Segurança? Se sim, como entender que ele, devido à sua posição de número 2, e abalizado sobre as pornográficas farras dos seus colegas, não informou ao Presidente da República, que, até por ser irmão dele, lhe teria certamente dado atenção e ouvido? O Presidente da República não exonerou o seu irmão por confiar nele ou por apenas ser seu irmão?
Estas e muitas outras questões levam à perigosa e preocupante inferência de que, mais do que proteger o seu irmão menor, o Presidente da República incorre num proceder que cheira a nepotismo.
Entrementes, a estranha manutenção de Sequeira João Lourenço na Casa de Segurança do Presidente da República denuncia um facto que os mais avisados cidadãos e cidadãs deste País já dominam: o combate à corrupção, ao nepotismo e à impunidade é um processo selectivo – engenharia política para inglês ver.
Ademais, o Presidente da República confirma, mais uma vez, que está ciente de que, se promover um coerente, consequente, irrestrito e cerrado combate contra tais males, não haverá governo no dia seguinte. Na verdade, visto que as próprias instituições de administração da justiça também estão imersas da corrupção, no peculato, no nepotismo e na impunidade, eis que a própria Procuradoria Geral da República e os tribunais também não existirão no dia seguinte. E, na Assembleia Nacional, sobrarão apenas os empregados de limpeza e algumas dezenas de deputados de bancadas na oposição.
Obviamente, tal situação piora o quadro de descrença e descrédito que os cidadãos e cidadãs de Angola projectam sobre a figura do Presidente da República, que mantém no cargo o tóxico Edeltrudes Costa, um indivíduo comprovadamente envolvido em actos de corrupção.
Tenho defendido que em 2017 não houve alternância. O mesmo grupo cancerígeno, corporizado no MPLA (o partido delinquente) continua alegremente a fazer de Angola um Estado-negócio, urinando na cara surrada dos cidadãos e cidadãs deste País. E o pior é que os mesmos parecem gostar do sabor da urina.
Nuno Álvaro Dala