Impedido de exercer medicina nos hospitais públicos de Angola há ano e numa altura em que várias crianças morrem por falta de profissionais, Adriano Manuel acusa o Ministério da Saúde de o “asfixiar financeiramente”.
Já passa um ano desde que o médico do Hospital Pediátrico de Luanda foi proibido de exercer medicina nas unidades sanitárias do país. Adriano Manuel foi transferido para o departamento dos Recursos Humanos do Ministério da Saúde.
O processo disciplinar contra o pediatria foi movido por denunciar à imprensa a morte de 19 crianças de um total de 24 no banco de urgência da pediatria onde estava colocado. Num documento assinado pelo diretor-geral do Hospital Pediátrico, Francisco António, citado pelo semanário Novo Jornal, o afastamento do sindicalista é justificado com a necessidade de mobilidade de quadros.
Adriano Manuel disse à DW África que a medida não passa de censura, tendo em conta as denúncias e as reivindicações dos médicos afiliados à associação. O médico afirma que o normal seria uma transferência para outro hospital e não exercer trabalhos administrativos.
“O processo disciplinar foi intencional. Sabe-se que 60% do salário de um médico são as horas acrescidas. O objetivo foi asfixiar-me financeiramente”, assegura.
Cortes salariais para “não falar mais”
“Porque se eu não receber 60% do meu salário bruto, o que recebo é um valor insignificante. Então, o objetivo foi este: vamos asfixiá-lo para ele não falar mais. E como não vai trabalhar no hospital, não vai receber as suas horas acrescidas. Não recebendo as horas acrescidas, ele vai ganhar pouco. Ganhando um pouco, vamos ver se ele vai falar”, disse o sindicalista angolano, que está exercer medicina apenas em clínicas privadas