Presidente do Grupo Parlamentar de Amizade Brasil/Angola disse que vai renunciar ao cargo e que o partido fará obstrução e oposição a qualquer acordo com o país na Comissão de Relações Exteriores na Casa
A deportação de nove missionários evangélicos brasileiros em Angola, na quarta-feira (12/5), repercutiu na Câmara dos Deputados. O presidente do Grupo Parlamentar de Amizade Brasil/Angola, deputado Márcio Marinho (Republicanos-BA), anunciou que renunciará à presidência do grupo e que seu partido vai obstruir e ser oposição a qualquer acordo com Angola na Comissão de Relações Exteriores da Casa.
O parlamentar, que é evangélico, cobrou uma posição do presidente Jair Bolsonaro e revelou insatisfação com o que ele chamou de “silêncio” por parte do Ministério das Relações Exteriores. “O embaixador Rafael (de Mello Vidal) disse que deu toda a atenção. Era para a Embaixada do Brasil em Angola ter dado toda a atenção, e não foi isso que aconteceu”, bradou.
“É importante que o presidente Bolsonaro fale, porque o que nós vimos nos dias anteriores foi o presidente recebendo o motorista Robson, que foi preso na Rússia. O presidente apareceu do lado dele dizendo que fez todos os contatos diplomáticos para resolver o problema. E com a gente não?”, questionou o parlamentar, referindo-se ao motorista Robson Oliveira, que ficou preso por dois anos na Rússia por ter em posse um medicamento liberado no Brasil, mas proibido no país europeu.
“Hoje, nós estamos renunciando à presidência do Grupo de Amizade Brasil Angola, do qual eu sou presidente. Lá, na Comissão de Relações Exteriores, meu partido, o Republicanos, e eu estaremos obstruindo todas as matérias relacionadas a acordos tratados entre Brasil e Angola. Estaremos obstruindo e sendo oposição às ações do governo brasileiro com relação à Angola”, declarou.
A situação cria um clima de instabilidade naquele que é o eleitorado mais fiel do presidente Jair Bolsonaro e foi fundamental para sua vitória nas urnas em 2018. O mandatário ainda não se pronunciou sobre o tema.
Deportação
Na última terça-feira (11), nove missionários brasileiros da Igreja Universal do Reino de Deus — do bispo Edir Macedo, um dos principais aliados de Bolsonaro — foram deportados de Angola, chegando ao país na tarde de quarta-feira (12). Macedo os recebeu no aeroporto pessoalmente, junto a um grupo de membros da igreja.
Segundo a comunicação da Igreja Universal, os brasileiros foram convocados pela Procuradoria-Geral da República de Angola. Ao chegar ao local marcado, eles teriam sido surpreendidos com testes de covid-19 e ficaram sob a responsabilidade de agentes de imigração sem alimentação por 12 horas. O grupo teria sido mandado de volta ao Brasil sem os pertences e sem as famílias — alguns deles estariam no país há anos.
O deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG), que é presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, afirmou que vai apurar, junto à Embaixada de Angola, quais as circunstâncias da deportação. “Também solicitarei ao Itamaraty informações sobre o ocorrido e sobre a atuação da diplomacia brasileira em relação a essa questão”, disse o parlamentar.
O Ministério das Relações Exteriores foi procurado pela reportagem e ainda não se pronunciou sobre o assunto.