Desde o início da construção em 2008, as obras nunca pararam mesmo com o aperto causado pela crise económica. Já na fase de conclusão, o maior centro comercial de Angola espera abrir as portas dentro de três anos. Obras acima dos 50%
Afinal, as obras do Complexo do Kinaxixi nunca estiveram paralisadas e, ao contrário das informações que davam conta da inauguração do centro comercial em 2015 e as restantes torres em 2016, a empresa proprietária do empreendimento não havia equacionado, pelo menos na altura, a data do corte da fita.
As revelações exclusivas ao VALOR são de Luciano Dzik, director do Kinaxixi Empreendimentos, que insiste que as obras nunca paralisaram, mesmo quando a construtora Somague saiu em 2018.
Iniciado em 2008, com escavações a cargo da portuguesa Soares da Costa e continuada em termos de estrutura pela Somague até 2018, o imponente empreendimento erguido no centro da cidade de Luanda está acima dos 50% de execução, estando a conclusão a cargo da empresa Grow Constrution, desde o ano passado.
Luciano Dzik estima concluir o shopping, a principal área do complexo com três torres de 25 andares, no primeiro semestre de 2024, na eventualidade de o cenário económico começar a mudar positivamente a partir do próximo ano. “É um empreendimento privado, feito com recursos da empresa (Kinaxixi Empreendimentos) e do mercado, e a sua viabilização depende do cenário económico. Nós adaptamo-nos à situação. Hoje, o mundo, e particularmente Angola, vive uma situação económica bastante constrangedora, então o nosso ritmo está a a acompanhar isso. À medida que houver uma recuperação, tanto a nível nacional e internacional, o ritmo da obra será outro”, explica o gestor, precisando que trabalha com uma previsão de entre 30 e 36 meses para terminar o shopping.
Do total de mil milhões de dólares de investimento previsto, já foi empregada metade e, embora não tenha pressa pelo facto de não estar “comprometido com ninguém” tão-pouco focado em financiamento bancário, o também engenheiro estima um financiamento para concluir antes da data de entre 400 e 500 milhões de dólares. “Apoio financeiro é sempre necessário. Em qualquer parte do mundo, o empreendimento imobiliário é feito com recursos próprios e da banca. Mas o momento actual não permite que a gente tenha nesta vertente uma solução imediata, os bancos hoje também se ressentem da crise. A capacidade de investimento dos bancos está atrelada à situação mundial, foi agravada com a covid-19”, observa.
Apesar do difícil contexto económico, nota, a opção de uma gestão “mais rigorosa” permitiu atingir, até ao momento, custos indirectos de 1%, diferente do registado em empreendimentos desta envergadura que chegam aos 5% do custo total. “O que não implicará aumento do investimento previsto desde o início”, acautela.
SHOPPING E TORRES, “UM CONCEITO INOVADOR”
“Já estão a caminho de Angola os materiais de acabamento do centro comercial, entre os quais elevadores e a cobertura. Brevemente, a actual imagem terá um outro aspecto externo, à semelhança do interior, escondido dos olhos de quem passa nas proximidades e pode julgar não estar a decorrer qualquer trabalho”, diz o gestor.
O centro comercial sai do subterrâneo ao sexto andar, vai albergar 220 lojas diversas, seis salas de cinemas, cafés, restaurantes e espaços de cultura, além de uma zona para quitandeiras exporem produtos da terra.
Prestes a concluir, a obra iniciada por cerca de mil pessoas, conta actualmente com 200 funcionários, número neste momento reduzido devido à pandemia da covid-19. E, segundo a empresa, são feitos à medida das possibilidades financeiras alguns retoques no centro comercial e na torre residencial. Alguns apartamentos encontram-se já estucados, à espera de aplicação de portas e janelas.
Apesar de três em um, as entradas das torres de escritórios e residencial são todas privadas e só acederá às mesmas quem tiver o cartão de acesso. Ou seja, quem estiver no shopping não consegue entrar ao espaço residencial ou de escritórios. Ao contrário, os moradores e usuários de escritórios podem ter acesso à zona comercial sem quaisquer constrangimentos, desde que tenham o cartão de acesso.
Com 116 apartamentos do T2 a T6, distribuídos em pisos de acordo com a tipologia, a torre residencial conta no último piso com piscina, ginásio, sala de jogos, salão de festas e churrasqueiras. Já as torres de escritórios, com até 1.800 metros livres por piso, dispõem de salas de negócio, reunião corporativa. Ambas começam a ser comercializadas depois da abertura do shopping.
LARGO DO KINAXIXI RECUPERADO
No início, a construção foi alvo de várias críticas por abranger um local bastante histórico e cultural. Daí que a empresa, em articulação com administração local, acordou em manter o famoso largo do Kinaxixi, cujas obras estão também com grau de execução avançado e mantém a estátua da rainha Nzinga Mbande. Diferente de há 13 anos, o largo conta um anfiteatro e balneários públicos.
PREÇOS NÃO SERÃO EXORBITANTES
Os preços das lojas, residências e escritórios não serão “tão elevados”, assegura Luciano Dzik, com o argumento de ter os “custos controlados”. Todavia, a definição dependerá da realidade económica. “É claro que o processo de venda nunca é simples, depende de outros factores que nunca estão nas nossas mãos. Por exemplo, só para citar um caso concreto, a actividade de construção não tinha IVA, de um ano para cá passou a ter, isso significou incremento de 14% do meu custo. É um dado, eu tenho de me adaptar, buscar fórmulas para sobreviver a esta situação”, argumenta.
A abertura do empreendimento poderá gerar entre dois mil e quatro mil empregos directos.