O ativista angolano Benedito (Dito) Dalí, um dos organizadores da manifestação prevista para hoje impedida pela polícia, classificou como “um terror” a ação das autoridades a impedir a ação de protesto. Alguns órgãos de comunicação revelam também que uma pessoa foi morta pela polícia.
Não está a ser nada pacífico a comemoração do dia da independência em Angola. Os relatos são de muita violência na capital angolana, em Luanda, sendo que alguns órgãos de comunicação revelam que já existe pelo menos um morto.
Segundo relata a publicação O Novo Jornal, de Luanda, “um jovem que, na manhã de hoje, integrava a concentração nas imediações do Triângulo dos Congolenses, foi baleado mortalmente na cabeça num momento em que estavam a ser efectuados disparos pelos efectivos da Polícia Nacional para dispersar os manifestantes”
Já o ativista Benedito Dalí revela o que vai vendo nas ruas de Luanda.
“Uma situação de terror que estamos a viver aqui, um verdadeiro estado político, que este regime institucionalizou neste país, que não permite que as pessoas se manifestem livremente face ao descontentamento”, disse à Agência Lusa Dito Dali, sobre a manifestação que tinha como objetivo reivindicar melhores condições de vida para os cidadãos e a marcação de uma data para as primeiras eleições autárquicas.
Segundo o ativista, um dos rostos do conhecido grupo 15+2, detidos e julgados em 2017, os manifestantes foram afastados, depois de terem conseguido chegar próximo ao cemitério de Santa Ana, local marcado para a concentração.
“Estamos aqui num bairro onde nos escondemos, mas estamos a sair para poder ler o manifesto e apelar ao pessoal para que voltem para as suas casas”, referiu Dito Dali.
Para o ativista, “o essencial já foi conquistado”, porque conseguiram “deixar a máquina desesperada”.
“Movimentaram a máquina de Estado por causa de uma simples manifestação”, frisou Dito Dali, realçando que “há vários detidos, alguns feridos”, entre quais o ativista Nito Alves, que se encontra a receber assistência no Hospital do Prenda.
Instado a comentar a acusação da polícia, sobre atos de desordem cometidos pelos manifestantes, Dito Dali disse que “essa foi sempre a linguagem deles”.
“Sempre nos acusaram de desordem, de queimas de pneus, o que não é verdade, sabemos que a polícia tem estado a infiltrar agentes nas manifestações para criar desordem e distúrbio, para depois imputar responsabilidades aos manifestantes”, retorquiu.
Angola assinala hoje 45 anos da independência do país, sendo hoje um dia feriado, em que está prevista a realização de uma manifestação, organizada por um grupo de jovens ativistas, com o objetivo de exigir melhores condições de vida e que seja apontada uma data para as primeiras eleições autárquicas.
O Governo da Província de Luanda proibiu a realização desta manifestação, evocando diversos motivos, um dos quais o não cumprimento do Decreto Presidencial sobre o estado de calamidade pública, que impede ajuntamentos de mais de cinco pessoas nas ruas, como medida de prevenção e combate à propagação da covid-19.