Morte do professor Adão Nguzo comove angolanos e provoca debate sobre as condições da Educação no país. Cidadãos cobram uma política pública que garanta condições adequadas aos profissionais e alunos.
Faz, esta segunda-feira (17.05), uma semana desde a morte de Adão Ngunzo, na província angolana de Malanje. O professor morreu afogado quando tentava atravessar o rio Luando numa canoa. “Infelizmente a canoa caiu e o professor conheceu a morte”, diz Carlos Xavier Lucas, um dos familiares de Nguzo.
Por sorte, não é frequente todos os professores terem o destino de Nguzo, mas Xavier Lucas ressalta que os profissionais da educação correm riscos durante a deslocação para o trabalho.
“Sempre que os professores da comuna de Cunga-Palanga se dirigem para o seu local de serviço, atravessam esse rio de canoa para cumprir com o seu dever de educar as pessoas”, explica.
Não são apenas os professores que se submetem a sacrifícios para ensinar. Também muitos alunos nas províncias de Malanje, Uíge, Moxico, Lundas, Cabinda e Cunene atravessam as fronteiras em busca de conhecimento nos países vizinhos – como a República Democrática do Congo e o Congo-Brazaville.
“Cabinda e Uíge são as províncias que têm o maior número de angolanos a estudar nos países vizinhos. E os problemas identificados são quase os mesmos: falta de infraestruturas, de escolas, de professores”, revela Francisco Teixeira, líder do Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA).
Até mesmo na capital
Estas situações trouxeram a debate a falta de condições no sistema de ensino e aprendizagem em Angola. A DW África saiu à rua e ouviu alguns cidadãos. Anacleto dos Santos conta que em Luanda, capital de Angola, os professores também não têm condições adequadas de trabalho.
“Há escassez de apagadores e giz. Para o professor dar aulas, tem que ir pedir giz noutras salas ou os alunos têm que contribuir [com material]. Praticamente o Estado não inclui as escolas no orçamento”, opina.
O estudante Josué Francisco Paulo vê e ouve todos os dias professores a reclamarem da falta de condições laborais. “Não estão nada favoráveis para os professores porque eles reclamam”, salienta Paulo.
Há solução?
Teixeira defende que é necessário continuar a reclamar por melhores condições na Educação angolana, quer por parte dos professores quer dos alunos. Para o dirigente do MEA, é necessário pressionar o Estado a reunir as condições necessárias para o ensino e aprendizagem de qualidade.
“É preciso criar infraestruturas dentro dos municípios recônditos, principalmente nas zonas de fronteira com outros municípios. Lá, não há vida. Não há escolas”.
Quanto à morte do professor em Malanje por afogamento, o cidadão Anacleto dos Santos exige a responsabilização do Estado. “Por ele ser um professor do Estado, tinha que fazer algo, pelo menos, para assumir a morte do senhor professor”, cobra.