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Execuções em Cafunfo: “O silêncio cúmplice do Presidente da República” – Nuno Álvaro Dala

Quero, por introito, deixar claro que nunca acreditei em João Lourenço como o reformador de Angola. Sou demasiado avisado para acreditar que o novo líder do grupo (MPLA) que transformou Angola num projecto falhado seja aquele que, com a mesma estrutura apodrecida tirará o País do pântano civilizacional em que se encontra. Com o MPLA no poder Angola não irá a lado nenhum.

Depois de 1 (um) ano (2017-2018) em que realizou uma quantidade quase industrial de operações de charme pelas quais conseguiu enganar milhões de descamisados com o conto do vigário de que ele, para além de que viera para reformar Angola, era um presidente acessível, o tempo revelou o que os mais argutos já sabiam: mudar Angola é pura cantata. E um dos aspectos em que isto tem ficado especialmente evidente reside no silêncio tumular que o Presidente da República tem evidenciado nas muitas situações em que a Polícia Nacional (uma instituição cheia de gente analfabeta e brutamontes) assassinou cidadãos e cidadãs.

O Presidente da República manteve-se em silêncio quando os buldogues fardados assassinaram o jovem Inocêncio de Matos, um futuro cientista da computação que, como muitos outros, saiu à rua a 11 de Novembro de 2020 para protestar. Um Angolano foi morto gratuitamente, mas o Presidente da República não deixou escapar, nem que por engano, uma só palavra que confortasse a família e o País.

A 30 de Janeiro do ano em curso, a Polícia Nacional assassinou alegremente vários membros do Movimento do Protectorado Lunda Tchokwe (designação oficial) que tentavam manifestar-se. As fotos e os vídeos da carnificina revelam um sadismo inqualificável. E a caça aos manifestantes continuou no dia seguinte, 31. Os ecos da tragédia já perpassaram as fronteiras de Angola. Mas, mesmo assim, o Presidente da República mantém-se em silêncio.

O silêncio cobarde do Presidente da República revela a sua cumplicidade nos actos de assassinato e carnificina que têm ocorrido em Angola nos últimos 3 anos, precisamente o período temporal que corresponde ao seu mandato iniciado em 2017. A Polícia Nacional assassinou inúmeros cidadãos e cidadãs em diversa províncias e municípios do País, logo, a morte do Inocêncio de Matos e dos manifestantes do Protectorado são apenas os casos mais recentes.

O Presidente da República é o chefe supremo de todas as instituições de defesa e segurança do País. Ele é solidariamente responsável pelas barbaridades que a Polícia Nacional tem cometido em todo o território nacional. Sempre que se cala perante o assassinato de cidadãos e cidadãs revela ser cúmplice desta polícia assassina que destrói vidas todos os dias.

O seu silêncio não deixa os Angolanos e Angolanas tranquilos: revolta, exasperação, insegurança, apreensão e desnorte dominam as almas dos cidadãos e cidadãs deste País.

É um grave erro de liderança fechar-se em copas enquanto a Polícia Nacional soma e segue na sua saga de assassinar alegremente cidadãos e cidadãs como se a vida do Angolano fosse igual à de uma barata.

Os Angolanos e Angolanos têm de decidir se vão continuar a deixar-se matar ou se vão tomar as medidas necessárias para se protegerem contra as investidas assassinas da Polícia Nacional.

Nota: o comunicado do Comando Provincial da Polícia da Lunda Norte é uma colecção de mentiras deslavadas e um insulto à inteligência dos cidadãos e cidadãs de Angola.

Nuno Álvaro Dala
Professor, Investigador e Activista

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