Em entrevista à DW África, o presidente do Bloco Democrático faz críticas à CNE. Filomeno Vieira Lopes acredita que, sem “batota”, a oposição pode vencer as eleições em Angola. E revela que o Bloco Democrático saiu da CASA-CE.
Na segunda-feira (31.01), os partidos integrantes da Convergência Ampla de Salvação de Angola – Coligação Eleitoral (CASA-CE) renovaram o pacto para concorrerem juntos nas eleições gerais de agosto. Mas o Bloco Democrático não o fez.
Filomeno Vieira Lopes diz que o seu partido está definitivamente fora da coligação. Segundo o político, era importante sair com bastante tempo de antecedência, antes do escrutínio.“Exatamente para que os colegas possam estabelecer de forma independente as suas estratégias políticas e nós a nossa estratégia política eleitoral, também de forma independente”, explica.
“Há uma corrente do Bloco Democrático que achava que se devia permanecer na CASA, mas essa corrente não teve o apoio da grande maioria dos nossos militantes. Por consequência, esse é o nosso caminho, não concorrer no seio da CASA-CE”, remata.
Como funcionará a Frente Patriótica Unida?
Em vez disso, o Bloco Democrático concorrerá com a Frente Patriótica Unida (FPU), garante Filomeno Vieira Lopes. Mas como funcionará a FPU?
Será que os candidatos do Bloco Democrático serão incorporados na lista de deputados da UNITA? “Podemos ter uma coligação, um formato com inscrição no Tribunal Constitucional como Frente Patriótica Unida ou podemos ter outro formato, em que uma força política oferece a sua sigla, embora dentro de vários acordos na FPU. Portanto, as pessoas de outros partidos podem concorrer aí”, responde.
Se a Frente Patriótica não tiver pernas para andar, será que o Bloco conseguirá caminhar sozinho? “O que se passa aqui não é a impotência de caminhar sozinho. Podemos é ter vários constrangimentos que podem vir do partido no poder, do Tribunal Constitucional – são constrangimentos administrativos, políticos. Não é porque o Bloco Democrático não tenha força”, assegura Vieira Lopes.
A verdade é que as eleições gerais aproximam-se a passos largos, os partidos e as coligações já fizeram os seus congressos e abriram o ano político. Mas ainda paira no ar um grande ponto de interrogação: até agora, a convenção do Bloco Democrático não foi ratificada pelo Tribunal Constitucional, e o mesmo acontece com o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no Governo) e com a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA).
É uma interrogação sobretudo para a oposição, afirma Vieira Lopes, pois o partido no poder poderá ter mais facilidade do que os outros partidos. “O tribunal tem agido numa estratégia política do partido no poder”, acusa.
Críticas à CNE
As críticas do presidente do Bloco Democrático são também para a composição e atuação da Comissão Nacional Eleitoral (CNE).
“Esta administração eleitoral não serve. Nós devíamos ter a coragem de ter uma administração eleitoral imparcial para tirar as dúvidas a toda gente. Se é imparcial não socorre ninguém em particular, apenas socorre a verdade”, sublinha.
Sendo assim, será que há probabilidade de a oposição, especificamente a FPU, ganhar as eleições? Vieira Lopes tem esperança que sim, embora diga que “existindo batota, ganha quem faz batota. Isso é absolutamente claro.”
Defende também que é preciso estabelecer “um pacto de ética” em torno das eleições e do futuro de Angola. “Nós desejamos que as coisas decorram agora com transparência, para que todos nós estejamos confortáveis com os resultados.”
E ainda o processo eleitoral vai no adro. Muitos cidadãos queixam-se de problemas nos Balcões Único de Atendimento ao Público, onde é feito o registo eleitoral. A segunda maior força política em Angola, a UNITA, contesta a escolha da empresa Indra para organizar a logística das eleições – uma empresa conhecida por más práticas.
Segundo Filomeno Vieira Lopes, o MPLA está a usar a sua posição no Governo para preparar a campanha.
Eleições autárquicas esquecidas?
De acordo com o presidente do Bloco Democrático, a proposta do Executivo de João Lourenço de aumentar em 50% o salário mínimo nacional é claramente eleitoralista. A proposta até já foi criticada pelos movimentos sindicais.
“Como é possível?”, questiona Vieira Lopes, que também é economista. “Durante os últimos anos, a recuperação salarial devia ser feita em função da inflação. Nós tivemos uma inflação de dois dígitos, inflação que vai nos 20%, 25%. Ao longo dos últimos quatro anos houve uma perda de poder de compra muito superior a 120%. E como é possível, num ápice, recuperar o salário a 50%? Esse é um país completamente anacrónico.”
Entretanto, em Angola, pouco ou nada se fala de eleições autárquicas nos últimos tempos. Parece ser um processo completamente esquecido. Quando serão realizadas as autarquias?
“Se a Frente Patriótica Unida vencer as eleições, seguramente lhe digo que, no ano a seguir, as eleições autárquicas são feitas”, promete Filomeno Vieira Lopes. “Se passar isso com o partido que está no poder, só vai fazer eleições quando entender que as vai ganhar”, conclui.