ONG Plataforma Sul, um conjunto de organizações da sociedade civil que acampanham a crise alimentar em Angola, considera que Presidente angolano demonstrou falta de compromisso ao afirmar que “a fome é sempre relativa”.
A organização não-governalmental angolana Plataforma Sul reagiu, numa conferência de imprensa nesta quinta-feira (16.12), à afirmação de João Lourenço em que o mesmo relativizou a fome no país, durante o oitavo congresso do partido no poder.
As declarações de João Lourenço foram feitas nas vestes de presidente do partido Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), um dia após a sua reeleição, no dia 10 de dezembro.
“Os adversários hoje acordam de manhã a cantar uma música. Fome, fome, fome. A fome é sempre relativa”, disse o Presidente de Angola.
“O país já tem muita produção de bens alimentares. Talvez por conveniência política lhes convenha repetir insensantemente a palavra fome”, acrescentou João Lourenço no Estádio Nacional 11 de Novembro em Luanda.
Para Lourenço o grande problema da população é o poder de compra.
“Meme” nas redes sociais
Mas as afirmações geraram nova polémica em Angola e tornaram-se “meme” nas redes sociais. Indignada com as palavras o líder do país, a Plataforma Sul afirma, em protesto, que João Lourenço condena a morte os milhões de angolanos que são “vítimas da fome”.
“As palavras proferidas por vossa excelência são um insulto direto a todas famílias que perderam os seus entequeridos por causa da fome”, segundo a nota lida pela pesquisadora Cesaltina Abreu, em conferência de imprensa.
“Afinal, desde que a sociedade civil começou o alerta, se o Estado angolano se tivesse posicionado e providenciado a necessária ajuda, com o apoio da comunidade internacional, a maior parte das pessoas não teria perecido”, acrescentou.
A ONG lembra o Presidente da República que as cidades do Lubango, Huambo, Benguela e Luanda estão cheias de mendigos e muitos destes são crianças com menos de dez anos.
Segundo a Plataforma Sul, devido à “insensibilidade” do Executivo de João Lourenço, dezenas de milhares de crianças não estão a frequentar a escola por causa da fome.
Os ativistas dos direitos humanos ponderam acusar João Lourenço por crime contra humanidade caso não tome posição firme e de Estado sobre a crise alimentar.
Crianças vítimas da fome
“A sociedade civil angolana, doravante, irá responsabilizá-lo por toda a morte causada pela fome, e por toda criança com malnutrição severa e crônica, pois o problema de Angola não é a falta de dinheiro, nem recursos, mas sim a negação destes aos que mais precisam”, afirmam.
Os dados, segundo a ONG contrastam, com as declarações do Presidente João Lourenço. Para o diretor executivo da OMUNGA, João Malavindele, trata-se de um problema nacional.
“Não é apenas no sul de Angola”
“Sabemos que quando se fala de fome não é só no sul de Angola. Aqui mesmo, a 100 metros da Cidade Alta, onde o está o Presidente João Lourenço, há pessoas que – se almoçaram – não sabem se vão jantar, ou se terão o pequeno almoço”, disse.
E Malavindele questiona: “Não é vergonhoso saber que milhares de angolanos vão à Namíbia à procura de comida? Eu, no lugar do Presidente João Lourenço, teria pedido já a demissão”.
Na província da Huíla a situação é crítica e há registo de muitas mortes, segundo Mensageiro Andrade, ativista da Associação Construindo Comunidades (ACC).
Mensageiro alerta para os casos de intimidação a cidadãos que denunciam a situação de fome nas comunidades: “O professor que colaborou conosco foi ameaçado. São situações completamente preocupantes”.
É por isso que “apelamos à comunidade de Luanda, para que sejamos mais sensíveis às necessidades dessas pessoas”, concluiu.