Algumas promessas do Presidente angolano estão a ser aplicadas, mas a situação permanece inalterada, dizem organizações não governamentais locais: “Temos muita gente a morrer”.
Cerca de sete meses depois de o Presidente da República de Angola ter visitado e anunciado no Cunene um programa do Governo para combater a seca e a fome, no terreno o quadro se mostra inalterado.
A abertura de furos de água ou a construção de diques para o aproveitamento das águas pluviais e outros projectos estruturantes de longo prazo, bem como apoios com bens alimentares aos grupos vulneráveis têm sido algumas das acções levadas a cabo pelos governos provinciais.
Uma chamada “task force” que iria operar a partir do município da Cahama, no Cunene, para acudir a situação chegou a ser anunciada o ano passado por João Lourenço, mas pouco ou nada se fez.
O padre Gaudêncio Yakuleinge, director executivo da Associação Ame Naame Omunu, (ANO) organização de promoção e defesa dos direitos humanos, na província do Cunene, lamenta que o quadro da fome esteja a agravar-se cada vez mais com casos de mortes nas aldeias.
“Nas aldeias temos ainda muita gente que está a morrer que não tem comida. Ainda temos esperança que seja possível atender aquela gente em condições dignas, mas só o governo não é capaz”, diz.
Domingos Fingo, da Associação Construindo Comunidades, (ACC), afirma que alguns projectos de mitigação da seca em curso deveriam merecer uma consulta pública, o que não sucedeu.
O activista vai mais longe e diz mesmo que a irregularidade das chuvas com a crise já instalada pode levar ao desaparecimento de algumas comunidades rurais na região.
“Acredito que a partir de Junho, Julho até Novembro deste ano a situação vai se agravar. Se não houver políticas desta natureza, todas as comunidades da região sul vão desaparecer porque dependem da água”, alerta Fingo.
O padre Gaudêncio Yakuleinge reitera a posição da Plataforma Sul para que se decrete o estado de emergência no sul de Angola e alerta que a insensibilidade para esta decisão só pode decorrer do desconhecimento da realidade.
“Este estado de emergência que muitos não querem ou que alguns não querem, aqueles que se calhar que nunca experimentaram a dureza e o peso da fome e que se calhar nunca foram a essas aldeias e olhar para o semblante daquelas pessoas e acredito que, se se decretar o estado de emergência alguma coisa poderá ser feita”, sublinha.
Um novo levantamento sobre a situação da seca no sul de Angola está a ser feito pelas organizações não-governamentais e da sociedade civil que integram a Plataforma Sul para perceber o número exacto das pessoas afectadas nas províncias do Namibe, Huíla, Cunene e Cuando Cubango.