Emmanuel Macron reforçou a total oposição de França em dialogar com grupos islâmicos. Em questão está a questão do Mali, país que tem sido palco de violentos confrontos.
O Presidente francês Emmanuel Macron reafirmou hoje a total oposição da França, militarmente empenhada na região do Sahel, a qualquer negociação com os ‘jihadistas’, embora o assunto esteja a ser debatido na região, particularmente no Mali.
“Com os terroristas, não discutimos. Lutamos”, afirmou Emmanuel Macron numa entrevista ao semanário Jeune Afrique.
O chefe de Estado francês defendeu a necessidade de se “centrar num roteiro claro que são os acordos de Argel”, referindo-se aos acordos de paz, concluídos em 2015, entre o governo central do Mali e antigos grupos armados Tuaregues.
“Estes [os acordos] preveem um diálogo com diferentes grupos políticos e independentistas. Mas isto não significa diálogo com grupos terroristas, que continuam a matar civis e militares, incluindo os nossos militares”, acrescentou Macron.
Grupos islâmicos ligados à Al-Qaida e à Organização do Estado Islâmico (ISO, na sigla em inglês) não assinaram estes acordos e continuaram a intensificar as suas ações ao longo dos últimos cinco anos, que resultaram em centenas de mortes.
No entanto, o primeiro-ministro de transição no Mali, Moctar Ouane, salientou, numa visita do chefe da diplomacia francesa, Jean-Yves Le Driana, a Bamako, capital do país, em 26 de outubro, que o “diálogo nacional inclusivo”, uma ampla consulta do país realizada no final de 2019, “indicou, muito claramente, a necessidade de uma oferta de diálogo com os grupos armados ‘jihadistas‘”.
“Constato simplesmente que as autoridades de transição [do Mali] reiteraram a sua vontade de combater eficazmente o terrorismo”, sublinhou Emmanuel Macron.
O presidente francês também indicou que, “nos próximos meses, teria decisões a tomar para desenvolver a Barkhane“, a força francesa, de mais de 5.000 homens, presente no Sahel. Esperava-se uma decisão até ao final do ano.
Quase um ano após ter enviado mais 600 soldados para o Sahel para que se recuperasse vantagem contra os ‘jihadistas‘, Paris está prestes a reduzir o número de soldados destacados, indicaram, no início de novembro, algumas fontes à agência de notícias France-Presse.
“Preciso de que os nossos parceiros reiterem uma clara vontade de ver a França permanecer ao seu lado”, salientou o chefe de Estado, que já tinha pedido aquele compromisso aos seus homólogos do G5 do Sahel (Mali, Burkina Faso, Níger, Chade, Mauritânia) na cimeira de Pau (sudoeste de França), em janeiro.
A Barkhane deve “realmente recentrar-se” nos EIGS, e nos “grupos estritamente terroristas”, salientou o Presidente francês, referindo-se ao Estado Islâmico no Grande Sahara (EIGS), que Paris e os seus aliados do Sahel já tinham designado como o principal alvo na Cimeira de Pau.
Emmanuel Macron não mencionou, contudo, o Grupo de Apoio ao Islão e Muçulmanos (JNIM) da Iyad Ag-Ghali, que é filiado na Al-Qaida.
Para o Presidente francês, é também necessário “acelerar o aumento do poder dos Exércitos do G5 do Sahel” e “internacionalizar a presença”, envolvendo outros países europeus.
Emmanuel Macron também se referiu à Argélia, na entrevista publicada pelo Jeune Afrique, assegurando que faria “tudo” para ajudar o Presidente argelino Abdelmadjid Tebboune, para que “a transição seja bem sucedida” no país.
“Farei todos os possíveis para ajudar o Presidente Tebboune neste período de transição. Ele é corajoso”, disse o chefe de Estado. “Temos de fazer tudo para que esta transição seja um sucesso. A África não pode ter sucesso sem a Argélia ter sucesso”, concluiu.