O Fundo Africano de Garantia (AGF, sigla em inglês) vai assumir 75% dos riscos de financiamento a projetos de mulheres de Pequenas e Médias Empresas (PME) de Angola, anunciou hoje em Luanda o diretor executivo.
Jules Ngakam, que interveio hoje na abertura da série financeira da Ação Financeira Afirmativa para as Mulheres em África (AFAWA, sigla em inglês), disse que esta decisão faz parte dos esforços para empoderar a capacidade de meninas e mulheres empreendedoras em África.
“Com este programa de garantia vamos partilhar o fardo e reduzir os riscos desta atividade de empréstimo. Normalmente quando trabalhamos com bancos, nós assumimos 50% dos riscos, para cada cem dólares que emprestarem nós ficamos com 50% dos riscos e neste programa nós vamos ficar com 75% dos riscos”, frisou.
O responsável destacou que o AGF está empenhado em trabalhar com instituições financeiras através da AFAWA, o seu programa de garantias.
Segundo Jules Ngakam, o AGF também dá apoio técnico às instituições parceiras financeiras, para que possam desenvolver o portefólio de empréstimo a mulheres, realçando que, no continente africano, são elas que têm maior participação na atividade económica, contudo, menor contribuição no Produto Interno Bruto (PIB), “porque a maior parte destas mulheres estão no setor informal”.
“O que nós queremos ver aqui é como podemos trabalhar juntos para que as mulheres continuem com as suas atividades formalizadas, de modo a participar a 100% nas riquezas do país e consequentemente no PIB”, sublinhou.
A AFAWA é uma iniciativa pan-africana do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), que visa reduzir o défice de financiamento estimado em 42 mil milhões de dólares (39,2 mil milhões de euros) que afeta as mulheres empresárias em África.
Em janeiro de 2021, o BAD e o AGF assinaram um acordo de partilha de risco de 250 milhões de dólares (233,7 milhões de euros), através da AFAWA, com o objetivo de desbloquear até dois mil milhões de dólares (1,8 mil milhões de euros) para financiar PME pertencentes a mulheres africanas, através de instituições financeiras.
O mecanismo de partilha de riscos é apoiado por uma subvenção de assistência técnica de 25 milhões de dólares (23,3 milhões de euros) à AGF, para aumentar a capacidade das instituições financeiras que beneficiam do mecanismo para melhor responder às necessidades das mulheres, bem como ajudá-las no aumento da sua capacidade bancária.
Até 2026, a AFAWA tem como meta desbloquear cinco mil milhões de dólares (4,6 mil milhões de euros) em financiamento para PME detidas e geridas por mulheres, sendo a iniciativa apoiada pelos parceiros e doadores do BAD, pelos países do G7, bem como pela Suécia, Países Baixos, e pela Women Entrepreuners Finance Initiative (We-Fi).
Na sua intervenção, o vice-governador do Banco Nacional de Angola (BNA), Pedro e Silva, recomendou que a fase de assistência técnica preceda a do financiamento.
Pedro e Silva salientou que a recomendação baseou-se no facto de que, no que respeita ao crédito das PME na economia angolana, um dos constrangimentos identificados do lado dos bancos comerciais é a falta de contabilidade organizada.
“Dotar as nossas empreendedoras de conhecimentos de gestão, em linha com as melhores práticas, é um fator crítico de sucesso para as PME lideradas por mulheres em Angola”, disse.
Citando dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) angolano, Pedro e Silva sublinhou que a população empregada, de 15 ou mais anos, é estimada em 9,6 milhões de pessoas, das quais 6,1 milhões são mulheres, representando 52% da população empregada.
O mesmo estudo, segundo o vice-governador do BNA, revela que entre as mulheres empregadas 88% estão no mercado informal.
“Ao partilhar estas estatísticas gostaria de deixar um desafio ao BAD e ao FGA, que reflitam sobre a criação de uma iniciativa semelhante à AFAWA mais orientada para as mulheres que trabalham no mercado informal”, apelou.
“Nessa reflexão, sugiro que os intermediários financeiros não se cinjam a instituições financeiras bancárias, mas que se considerem instituições financeiras não bancárias”, acrescentou o responsável.
De acordo com Pedro e Silva, durante esta semana, o BNA está a analisar a proposta de avisos para a constituição de sociedades de microcrédito e cooperativas de crédito, estando também em fase de estudo uma nova lei de microfinanças.
“São essas instituições financeiras não bancárias que poderão desempenhar um papel importante na inclusão de cada vez mais mulheres no sistema financeiro angolano”, avançou Pedro e Silva, indicando como tipo de instituição financeira não bancária, que pode servir para canalizar as soluções do BAD para a economia informal, as instituições de ‘mobile money’, com uma vasta rede de clientes na economia angolana.