O Presidente angolano disse hoje, em Acra, capital do Gana, que o continente africano não pode continuar a ser visto apenas como potencialmente rico em recursos minerais, mas deve passar efetivamente a usufruir desta riqueza.
João Lourenço, que falava após um encontro com o seu homólogo do Gana, Nana Akufo-Addo, disse que este desafio “depende apenas dos próprios africanos”.
“Ninguém nos vai oferecer isso de borla, ou nós conseguimos esta proeza de darmos o salto de países potencialmente ricos para países efetivamente ricos ou ninguém fará isso por nós”, afirmou.
O chefe de Estado angolano, que chegou domingo ao Gana, disse que o objetivo da visita foi sobretudo encontrar os melhores caminhos para o reforço da cooperação económica entre os dois países.
“Queremos encontrar aqui mesmo, no nosso continente africano, muitas das soluções que muitas vezes vamos à procura fora do continente. E é por esta razão que não só aprovámos como ratificámos o acordo que cria a Zona de Livre Comércio Continental Africana (ZLCCA), cuja sede está aqui, na cidade de Acra, e que amanhã [terça-feira] teremos a oportunidade de visitar”, referiu.
O Presidente angolano recebeu recentemente em Luanda o secretário executivo da organização, que falou dos primeiros passos que vêm sendo dados no sentido de fazer com que cumpra com o papel para o qual foi criada, nomeadamente para garantir a integração económica dos países africanos e a integração das suas economias.
“No encontro que tivemos há bocado concluímos que esse é um processo que será longo, mas possível, se todos os países se engajarem. Nós não criámos a organização apenas por vontade de criar, nós criámo-la, porque queremos efetivamente mudar o atual estado de coisas no nosso continente, queremos ver os nossos países interligados pelas mais diferentes formas de comunicação, interligados por estradas, autoestradas, caminhos-de-ferro, ligações marítimas, aéreas, para que não se mantenha o absurdo atual de termos de viajar até à Europa para irmos visitar um país irmão do nosso continente”, acrescentou.
João Lourenço, que foi apoiado em tudo o que mencionou “sem hesitar” pelo seu homólogo do Gana, reiterou que os africanos pretendem “desenvolver este grande potencial económico adormecido” do continente, “que se gaba de ser um dos pontos do mundo que tem as maiores reservas de recursos minerais”.
O Presidente angolano sublinhou que o instrumento ora criado, que entrou em vigor em janeiro deste ano, é importante para proporcionar a possibilidade de fazer a transição de países exportadores de matérias-primas para países que criam riquezas nas suas próprias terras.
Em resposta à preocupação levantada pelo Presidente do Gana relativamente à pirataria no Golfo da Guiné, João Lourenço disse que a situação é uma preocupação de todos, por se tratar de uma rota marítima internacional importante, que tem a ver com o bom desempenho do comércio internacional.
“Por esta razão, é nossa responsabilidade defendermos não apenas o nosso interesse nacional, regional, mas no fundo o interesse da comunidade internacional, que sem essa importante rota pode ver as suas economias muito seriamente afetadas. Estamos preocupados e comprometemo-nos na medida do possível a fazer tudo no sentido de darmos outra vida, dinâmica, a esta muito importante organização”, assegurou.
Para terça-feira, o programa de visita prevê a presença de João Lourenço no parlamento, tendo o chefe de Estado angolano considerado o Gana “um exemplo” da democracia na região e no continente.