“A ação climática global e as zero emissões em África muitas vezes não levam em consideração a necessidade urgente de desenvolvimento e industrialização em grande parte do continente”, diz Tony Blair.
O antigo primeiro-ministro britânico Tony Blair avisou esta quarta-feira os países desenvolvidos que arriscam condenar países como Moçambique à pobreza se cortarem o financiamento a todos os projetos de exploração combustíveis fósseis devido a preocupações ambientalistas.
Num prefácio a um relatório intitulado “Uma Transição Justa para África: Defesa de um Caminho Justo e Próspero para Zero Emissões”, Blair alertou para as consequências do fim do financiamento a energia produzida a partir de gás natural.
Se países com rendimento elevados “limitarem as oportunidades de desenvolvimento, por exemplo, suspendendo o financiamento para energia gerada a partir do gás, sem fazer provisões para alternativas igualmente acessíveis, correm o risco de condenar os países à contínua pobreza e insegurança alimentar”.
Um efeito indesejado, acrescenta o antigo governante, poderá ser o recurso dos países africanos a financiamento de outros países menos preocupados com o ambiente e as alterações climáticas.
“A ação climática global e a abordagem de zero emissões [de dióxido de carbono] em África muitas vezes não levam em consideração a necessidade urgente de desenvolvimento e industrialização em grande parte do continente”, lamenta.
Blair defende que os países mais ricos devem não só assumir a maior parte da redução dos gases com efeito de estufa para combater o aquecimento global, mas também aumentar significativamente o financiamento associado à adaptação e proteção dos países em desenvolvimento contra o impacto das alterações climáticas.
Moçambique é destacado no estudo publicado esta quarta-feira pelo Instituto Tony Blair para a Transformação Mundial como um caso emblemático, pois as reservas de gás natural no norte do país representam um potencial para o desenvolvimento económico e social do país.
“O sucesso dos projetos de gás de Moçambique representa uma questão de justiça intra e intergeracional, permitindo que os seus cidadãos desfrutem dos frutos do desenvolvimento hoje, ao mesmo tempo que os ajudam na transição para uma economia de baixo carbono amanhã”, escrevem os autores.
Embora parte do gás natural extraído, o que não deverá acontecer antes de 2026, esteja destinado ao consumo doméstico, referem, a maior parte será exportada e ajudará outros países a dependerem menos de fontes de energia mais poluidoras, como o carvão e petróleo.
“Aproveitar o poder transformador do gás é um imperativo de desenvolvimento que serve as pessoas, a prosperidade e o planeta, ao mesmo tempo que reconhece as legítimas aspirações dos moçambicanos”, acrescentam.
O relatório é publicado menos de um mês antes da conferência climática COP26 em Glasgow, entre 31 de outubro e 12 de novembro.
A conferência vai procurar pôr em prática os compromissos do Acordo de Paris, alcançado em 2015, de limitar o aquecimento global abaixo dos dois graus centígrados, de preferência a 1,5 graus centígrados.
Mais de 120 líderes mundiais são esperados num encontro de alto nível nos primeiros dias da COP26, que deverá juntar cerca de 25 mil participantes, entre políticos, ativistas, especialistas e negociadores nacionais.