O lixo na capital angolana continua aos montes apesar da recente criada comissão multissetorial com vista a limpar Luanda. As consequências chegam, inclusive, a dificultar o já débil fornecimento de água potável.
Mesmo com a recente criação de uma comissão multissetorial pelo Presidente da República, João Lourenço, para combater o problema do lixo em Luanda, parece que não será ainda desta vez que se terá uma capital sem lixo.
Em tudo o que é canto, os amontoados de resíduos ainda persistem, apesar do esforço das autoridades.
Manuel Fernando Pedro é residente em Luanda e, em declarações à DW África, desabafa: “Está mal”.
“O Governo tem que ver essa situação, senão está mesmo mal. Os homens da Elisal quando chegam só tiram o lixo que está no contentor e o que está no chão não tiram, deixam e vão embora. As pessoas continuam a meter sempre o lixo, mas eles para virem recolher, passam da hora. O horário deles de tirar o lixo é às 10h, mas eles chegam às 14h ou 15h. Está mal”, lamenta.
Mas há zonas onde não há sequer recolha de lixo, como pôde constatar a DW África nalgumas circunscrições da capital angolana. Há amontoados de lixo que ameaçam, inclusive, “engolir” as estradas, explica João António Dambi, outro morador de Luanda que apontava para o lixo que se encontrava no chão.
“Aqui o lixo vai parar até lá em cima. Todos reclamam porque quando chove maminhos vão até nas casas. Aqui mesmo está mal. Estrada está mal. Aqui ninguém mais está a aguentar”, desabafa.
Moscas e mosquitos também invadem as residências dos moradores e já estão a provocar doenças como o paludismo.
Lixo nas estações de tratamento de água
O lixo está a afetar também o abastecimento de água. Num comunicado tornado público esta semana, a EPAL – Empresa Pública de Águas de Luanda – informou que, na semana passada, algumas zonas de cinco municípios da capital foram privadas do fornecimento de água potável por causa do lixo nas estações de tratamento. Kilamba Kiaxe, onde vive Manuel Fernado Pedro, é um dos locais afetados.
“Aqui, água está difícil. Aqui eu vi muitas mães com bidon a procurar água. A água está a chegar turva, com cor amarela. Aqui no Kilamba Kiaxe está mesmo mal”, disse.
Porém, esse problema em Angola não é novo, apesar de o país ser rico em recursos hídricos. Inclusive, o músico angolano Barceló de Carvalho “Bonga” já abordou o tema na música intitulada “Água rara”.
Para resolver esse dilema, o Governo lançou em 2007, o projeto “Água para Todos” que visa cobrir mais de 80% da população. Volvidos quase 14 anos, “água potável não tem. Não tem”, lamenta João António Dambi.
E porque não há água potável nas residências dos cidadãos? Adão Ramos, ativista angolano e político do partido Bloco Democrático (BD), defende que o Estado tem meios para satisfazer as necessidades básicas da população.
“Resolver o problema do lixo, da água e da luz não requer nada, nenhuma engenharia, nenhuma cientificidade que ainda não tenha sido criada ou que ainda não exista. Os meios materiais, humanos e financeiros estão aí, o que há a fazer e só lançar mãos a eles, e pôr o barco a andar. Portanto, dar solução aos problemas”, finaliza.