Denúncia é do secretário provincial da UNITA e abrange 21 anos de paz e reconciliação nacional. Partido no poder refuta acusações e considera que povo está com o MPLA.
A UNITA foi alvo de mais de 80 atos de intolerância política nos últimos 21 anos, segundo o secretário provincial do partido no Cuando Cubango, Joaquim Sapondo Esinha. Em declarações à DW África, Sapondo aponta alguns dos atos alegadamente levados a cabo por militantes do MPLA a mando dos seus líderes políticos.
“Por exemplo, no dia 15 de junho de 2020, registámos a destruição de uma estrutura de funcionamento do partido no Licua”, começa por enumerar.
Em 2021, continua, houve registo de casas incendiadas em mais do que uma ocasião: “Registámos residências de cinco dos militantes queimadas pelos militantes supostamente do MPLA na área do Masseca. No mesmo ano, os nossos militantes que estiveram a representar o partido no município do Cuito Cuanavale viram as suas residências destruídas e, no caso do senhor Cutonoca, saiu com grandes ferimentos”.
Em busca de Justiça
De acordo com o dirigente político, de todos os casos registados e apresentados às autoridades policiais, apenas 2% foram resolvidos.
“Pelo menos, temos a situação do ex-regedor municipal do Rivungo, o Gangula, que tinha sido chamado pelo tribunal, é um dos casos que nós temos por reconhecer. Temos a reconhecer uma intervenção que também acabou por ser julgada em 2021 – uma situação que envolvia os nossos militantes e do MPLA na aldeia do Sovi. Depois do julgamento, o tribunal deu razão aos nossos homens, mas os prevaricadores não foram responsabilizados”, relata.
“Os demais casos têm sido engavetados, os autores nunca são responsabilizados”, critica.
Alcançar a paz social
Sapondo lamenta a situação, afirmando que as intolerâncias políticas contradizem as estratégias de paz e reconciliação nacional.
“Os outros do ‘partido da situação’ ainda não têm a cultura da convivência na diferença. Não sabem até hoje que a democracia nos obriga a vivermos juntos na diferença”, afirma o dirigente.
“Quando nós tratamos da paz social, um dos grandes problemas que registamos é que nalguns bairros os residentes nem têm acesso a água potável, não têm acesso a energia, porque são considerados bairros habitados maioritariamente por indivíduos que apoiam outras forças políticas,” acusa.
A DW África confrontou o comité provincial do MPLA com os dados apresentados pela UNITA e o partido no poder negou as acusações. Recusando gravar entrevista, o segundo secretário provincial do MPLA, João Yambo Miguel, disse que nunca foi trabalho do seu partido instigar as pessoas a impedir a UNITA de se instalar em qualquer parte do Cuando Cubango e que, quando acontece, “é da iniciativa do povo”.
Segundo o político, a existência de violência ou rejeição em algumas localidades da província é prova de que “a UNITA não é do povo”, caso contrário, o partido não seria rejeitado em qualquer lugar.