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Mambos da Nguimbi: “O sonho da desculpa” – Carlos Renato (de kambambe)

Meu Velho, tive um sonho muito diferente e impactante, tanto que parecia ser real. Sonhei que o Presidente pediu desculpas a todos e todas as cidadãs pelos erros, falhas, gralhas, lapsos e má gestão ao longo dos anos.

O Presidente estava diferente, calmo, sereno, sorridente, tratava a todos pelo nome, dava a impressão de que os conhecia. Falou dos problemas que afligiam de forma particular e apresentou soluções, e mais, pediu ainda que cada um pudesse também fazer o mesmo.

O mais alto mandatário da Nação começou por pedir que os presentes e ausentes aceitassem o pedido de desculpas que ele pedia em nome de todos que o antecederam e que estiveram à frente de algum órgão público.

Reconheceu que, durante décadas, “houve má governação e que, por causa disso, muita gente viveu e vive em situações desumanas, tanto que muitas pessoas faleceram. Admitiu que a má gestão dos fundos e da coisa pública enterrou o País na pobreza, tanto que nem o básico há para oferecer aos cidadãos que merecem tudo de bom pelo seu esforço individual e colectivo e por serem filhos dessa rica Pátria”.

Assumiu total responsabilidade pelas falhas e erros que adoeceram a qualidade do serviço de saúde pública, da falta de água potável, de saneamento básico funcional e da falta de boa gestão de resíduos que enlutaram milhões de famílias que foram abraçadas pelo cazumbi do paludismo, katolotolo, diarreia, tuberculose, febre tifóide, sarna, cólera, trombose, jipalo, usse, tripanossomíase, bucho virado, mau-olhado, cobra seca e outros males que já se tornaram parte da vivência dos cidadãos que se cafricam nas casas de chapa e de pau a pique, cujo calor aromatiza os pesadelos e tunda o sorriso.

Anuiu que essa mesma má gestão afogou a qualidade do ensino público que pariu milhões de analfabetos e deixou milhões de crianças fora do sistema de ensino e que lesou intelectualmente milhões de cidadãos que conseguiram ter uma vaga numa escola pública, cuja qualidade do que foi leccionado e as péssimas condições para a prática da docência deixaram muito a desejar, criando sérias lacunas a uma boa parte dos quadros e, consequentemente, ao País, fatigando a justiça e tudo mais.

Reconfirmou que, durante anos, houve práticas que criaram e protegeram um pequeno grupo de fezadeiros ligados a compadrios partidários e não só, que foram beneficiados de forma ilícita por recursos saídos dos cofres públicos de forma ilegal, desgraçando milhões, porque as oportunidades, ainda que injustas, foram sempre dadas a membros desse grupo que, depois, começaram por ser rebaptizados de marimbondos, caranguejos, tutatuji…

Em suma, “reconheceu que a escolha de pessoas erradas, da insistência da permanência nos cargos de pessoas com práticas reprováveis e lesivas à nossa Pátria, conduziu o País a esse abismo que queremos sair e fez que milhões de famílias vivessem sem dignidade alguma, sem esperança sequer, nem já com uma péssima qualidade de vida, porque muitos estão em situações muito desumanas”.

Vengó, o que mais me emocionou, foi ouvi-lo garantir que, para além das desculpas que não curam ferida, vão mais a fundo, farão o melhor para que nunca mais tenham de pedir desculpas, nunca mais haja situações que obriguem os dirigentes a pedirem desculpas e resolver a posterior, deixando muita gente em situação reprovável. Garantiu ainda que desculpas não se pedem, evitam-se, então, a partir de agora, vão começar a nomear as pessoas certas para os lugares certos e vão exigir, com a ajuda de todos, que essas pessoas trabalhem certo e apresentem bons resultados dentro de determinado período.

Adivinha quem é o presidente do meu sonho? Sou eu, o teu filho Katrungungo do Kapassarinho. A Mãe e o Pai estavam tão felizes por ver que um dos putos, que um dia educaram, cuidaram, alimentaram, protegeram, castigaram, mimaram, tornou-se nessa figura de destaque, nesse quadro de grande valor e exemplar, humanista, que ama a vida e faz por ajudar sempre quem esteja a precisar, tanto que se tornou na pessoa mais admirada e respeitada da banda, mais do que qualquer desportista, actor, memista, político ou cantor. Grato por tudo, pai e mãe, principalmente por não desistirem de mim nem dos meus irmãos quando as vossas condições de vida eram difíceis. Grato pela educação que permitiu que nos formássemos e aprendêssemos que o mais importante é saber aprender bem para saber e gostar de fazer sempre bem; que nos tornássemos pessoas dignas que amam as famílias, o País e respeitam todos sem olhar ou ouvir a quem.

Papoite, quando eu fui olhar para o calendário para saber em que dia, mês e ano estávamos, acordei com um estrondo, os gatunos estavam a desmontar as chapas da nossa casa para entrar. O que aconteceu a seguir já se sabe, é cultura geral…

 

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