Autoridades negam, mas participantes e dirigentes da UNITA insistem que houve uma morte devido à repressão violenta do protesto de sábado em Luanda. Movimento diz que voltará às ruas caso manifestantes sejam julgados.
O Governo angolano anunciou que mais de 100 participantes da manifestação contra o alto custo de vida e adiamento das autarquias em Angola vão ser levados a julgamento sumário esta segunda-feira (26.10). O protesto foi realizado no último sábado (24.10) e foi convocado pela sociedade civil, tendo a participação de forças da oposição.
O secretário de Estado do Interior para o Asseguramento Técnico, Salvador Rodrigues, disse que os cidadãos terão que explicar ao juiz as razões que os obrigaram a “desobedecer” as autoridades.
Segundo declarações de Rodrigues à televisão estatal angolana, 103 pessoas foram detidas por desacato – entre as quais integrantes da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA).
“Não entendemos como é que dirigentes de um partido se envolvem na manifestação que acaba em arruaça e desacato às autoridades. Não me parece que seja de urbano este comportamento. Diante do tribunal a que serão submetidos, teremos mais elementos para saber o quê que os animou”, disse Rodrigues.
O Movimento Jovens pelas Autarquias – que convocou a manifestação em Luanda no fim de semana – ameaça organizar novos protestos caso ocorra dos manifestantes. “Como o caso é político, não vamos aceitar que os manifestantes vão a julgamento. Vamos desencadear um conjunto de ações para ver se conseguimos libertá-los – com manifestações e vigílias. O caso político e deve ser resolvido também de forma política”, defende Digo Dalí, porta-voz do movimento.
Governo nega morte
Um manifestante disse à equipa de reportagem da DW África que testemunhou uma morte no protesto de sábado. “Ele morreu bem ao meu lado, caiu no chão ao lado de uma loja nos Congolenses enquanto decorria a manifestação. Não tenho nenhuma foto dele, mas as imagens ainda correm na minha cabeça. (…) Vi a polícia levá-lo”, diz o manifestante que prefere ser identificado como Cândido.
A UNITA também alega publicamente que houve uma morte e exige a libertação incondicional dos detidos.
“A responsabilidade dos atos de violência, dos distúrbios e mesmo da morte confirmada são da polícia e dos seus mandantes. Faço um apelo ao senhor Presidente da República e aos membros do seu Governo, para não se esconderem atrás da Covid para limitarem direitos e liberdade dos cidadãos, para violarem a Constituição ou para atrasarem os compromissos institucionais e o desenvolvimento do nosso país”, disse à DW África o presidente da UNITA Adalberto Costa Júnior.
O secretário Salvador Rodrigues, por sua vez, negou qualquer registo de mortes e divulgou que seis polícias ficaram feridos e que ocorreram diversos danos materiais às forças de segurança, como a “queima de uma motorizada e de uma viatura dos bombeiros, além da quebra dos vidros de uma ambulância e de uma viatura da unidade de trânsito”.
Jornalistas detidos
Entre os detidos da marcha pacífica deste sábado estão o secretário-geral da Juventude Unida Revolucionária de Angola, o braço juvenil da UNITA, Agostinho Kamuango; o secretário da JURA em Luanda, Domingos Palanga; o presidente do Movimento Estudantil de Angola (MEA), Francisco Teixeira, a jurista Priscila Martelo e os ativistas Nito Alves e Nelson Dibango.
Além de ativistas, jornalistas que cobriam a manifestação também foram detidos e tiveram o equipamento danificado e apreendido.
Tanto o Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA), como o Instituto para a Comunicação Social da África Austral (MISA) Angola repudiaram as ações da polícia contra os profissionais no exercício da profissão.