A População do leste de Angola não acredita que a descoberta do diamante batizado como “Rosa do Lulo”, o maior encontrado nos últimos 300 anos, se reflita na vida dos cidadãos, que diariamente enfrentam vários problemas.
O sol no leste de Angola nasce muito cedo. Cedo acorda também Marcos José, um mototaxista que ganha a vida nas ruas de Saurimo, na Lunda Sul.
Na sua motorizada, principal meio de transporte na cidade, conta à DW a sua rotina na cidade diamantífera: “Saio às 6 horas da manhã de casa até lá para as 12, 13 horas. Volto porque já tenho alguma coisa para levar em casa.”
À 6 horas da manhã, a urbe está calma. Apenas o roncar das motorizadas reduz o silêncio matinal. Marcos nunca ouviu falar do maior diamante dos últimos 300 anos descoberto numa mina em Angola pela Lucapa Diamond Company, empresa australiana que explora a zona cedida pelo Estado.
Também não sabe qual é a percentagem que o Estado atribui às províncias de exploração do “kamanga”, como é conhecido o diamante em Angola. Mas de uma coisa tem a certeza: “Eu sei que a percentagem que dão é muito pouca sabendo que onde sai a riqueza é cá. Deviam aumentar a percentagem da província”, defende o mototaxista.
Marcos José despede-se com um apelo ao futuro titular do poder político: “Só falamos, falamos e falamos. Quando se fala tem que se fazer. Só dizem vamos fazer até quando?”
Qual a percentagem das comunidades?
Em Angola, e no leste do país em particular, questiona-se como será dividido o “Rosa do Lulo”. Quanto fica para a comunidade, para a empresa de exploração e para o Estado representado pela Indiama.
A DW África tentou ouvir a Endiama para se saber como tudo se irá processar, mas até ao fecho desta reportagem não obteve qualquer resposta.
No entanto, o analista Agostinho Sicatu é de opinião que o Estado devia melhorar o seu mecanismo de comunicação para informar a população sobre os benefícios da exploração dos diamantes.
“Seria justo que as comunidades fossem informadas. Para além disso, soubessem qual é a sua percentagem. Isso é para poderem reclamar”, defende.
Para Sicatu, a falta de informação estende-se igualmente as zonas de exploração petrolífera como Zaire e Cabinda. “A história continua a mesma. Os cidadãos não sabem absolutamente nada. Não se informam. E como vão exigir?”
A pedra que agora levanta debate será vendida em leilões internacionais, devendo atingir um preço extremamente elevado.
Embora a “Rosa do Lulo” ainda precise de ser cortada e polida para atingir o seu valor total – um processo em que uma pedra pode perder 50% do seu peso – diamantes cor-de-rosa semelhantes atingiram preços elevadíssimos no passado.
Por exemplo, em 2017, o diamante “Pink Star”, de 59,6 quilates, foi leiloado em Hong Kong por 71,2 milhões de dólares, cerca de 70 milhões de euros, e continua a ser, até agora, o diamante mais caro da história.
Pobreza extrema continua
Mas o que mudará na vida da população do leste de Angola com esta pedra preciosa? “Quase nada”, responde Agostinho Sicatu. “Nós tivemos já vários diamantes descobertos, mas os cidadãos locais continuam na indigência, continuam na pobreza extrema. A descoberta do diamante não diz absolutamente nada.”
Esperava-se que com a exploração de diamantes, a região leste de Angola não tivesse tantos problemas sociais como escassez de hospitais, escolas e estradas degradadas.
David Kassueca nasceu e cresceu no município no Lukapa, província da Lunda Norte, há 36 anos. Explica que a vida aqui não é fácil.
“No dia a dia aqui estamos a passar mal. Aqui os hospitais não têm medicamentos. Os doentes dormem no chão, não têm cama”, lamenta.