Estiagem devasta agricultura e gera alerta para fome na província angolana de Malanje. Governo diz que 70% das culturas foram afetadas, mas “não é papel do Ministério fornecer fatores de produção” para agricultores.
Na província angolana de Malanje, pelo menos 30 mil famílias camponesas foram gravemente afetadas pela seca do final de 2020 e princípio deste ano, em plena época de cultivo. Muitas pessoas correm risco de fome.
Josefa Bartolomeu é uma dessas que está com falta de alimentos após a seca de novembro a fevereiro. Ela conta que a batata secou e o feijão não produziu bem. Além disso, relembra que outro problema que abate a região agora é a falta de sementes.
Fernando Manuel também é camponês na área de Malanje e conta que além da falta de chuva dificultar a colheita, a carência de máquinas para o plantio também agravará o problema da fome.
Ao todo, a seca afetou 70% das culturas na província, segundo dados facultados pelo diretor do Gabinete da Agricultura de Malanje. Carlos Chipoia diz que as perdas nas culturas do milho e do feijão são particularmente preocupantes. “O feijão é fundamental para fazer o equilíbrio da dieta alimentar das pessoas”, esclarece.
“Não é papel do Ministério”
Os camponeses pedem ajuda ao Governo após perderem tudo o que tinham semeado, mas Chipoia diz que “não é papel do Ministério [da Agricultura] ou do setor adquirir fatores de produção para fornecer aos produtores”.
Ele explica que a provisão de recursos que antes era feita pelo Estado “não é a realidade hoje”. E acrescenta quenão há distribuição de sementes, mas de arroz e trigo, o que o Estado pode disponibilizar para essas populações.
Em Malanje, os preços dos alimentos dispararam depois da seca. Adão Domingos, um comerciante de produtos agrícolas, conta que, há dois anos, comprava 100 kg de batatas aos produtores pelo equivalente a 10 euros. Agora, o preço duplicou.
“Espero que chova mais cedo, porque também nos ajuda a fazer mais compras”, diz.