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O Almoço da Paz: O tiro de “João Lourenço saíu-lhe pela colatra” – Mihaela Webba

No seu discurso alusivo ao dia da paz, o Presidente da UNITA, ACJ realçou três factos políticos importantes com os quais o MPLA acaba de concordar e atestar como verdadeiros:
  • 1- A paz de Abril ainda não é a “paz duradoura”, a “paz dos corações”, a “paz democrática”. E isto tem sido provado pela conduta do Partido Estado ao longo das últimas décadas.
  • 2- A reconciliação que Abril celebra não se deve limitar à reconciliação entre o Estado do MPLA e a UNITA. É reconciliação nacional. A Nação angolana é bem mais ampla do que os subscritores dos Acordos de Paz. Há necessidade de se concretizar a reconciliação “entre o Estado do MPLA e as vítimas do fratricídio do 27 de Maio”; entre “o Estado do MPLA e as vítimas do fenómeno da Sexta-Feira sangrenta”, entre o Estado do MPLA e as vítimas do massacre no Monte Sumi” e entre o Estado angolano e todos os outros grupos sociais que sofreram as amarguras da exclusão e da violação brutal e preordenada dos seus direitos fundamentais só por não se submeterem à ditadura do Partido-Estado”.
  • 3- É preciso “discernir a natureza subversiva do regime que fala de paz mas actua contra a paz… Ao agredirem a democracia todos os dias, estão a agredir a paz. Ao impedir a diversidade e o pluralismo político no controlo privado do espaço público e da economia, estão a agredir a paz. Ao bloquear a implementação efectiva das autarquias locais, estão a agredir a paz. Ao minar a lisura e a transparência dos processos eleitorais, estão a agredir a paz”.

A peça teatral montada à volta do “almoço da paz” acaba de provar a todos nós que o Presidente da UNITA tinha e tem razão para afirmar o que afirmou, por várias razões. Em primeiro lugar, as reações das pessoas do MPLA presentes, dos jornalistas tutelados pelo novo Grecima e comentadores ao serviço do Partido Estado vieram atestar que tudo era uma farsa com um objectivo político-partidário bem definido, que nada tem a ver com o Estado democrático nem com a paz democrática. Faz algum sentido organizar o almoço da paz sem se convidar o “inimigo” de ontem com quem se fez a paz?

Ficou claro que JLo agiu “contra a paz”, com motivação política mesquinha, quando concebeu sua lista de personalidades a convidar. Seu único objetivo foi ignorar ou desvalorizar seu único adversário político, o Engenheiro Adalberto Costa Júnior, Presidente da UNITA. Esqueceu-se JLo que o Presidente da UNITA é a única entidade que nos termos dos Estatutos da UNITA, pode representar a UNITA a tal nível. Se o Estado fez a paz com a UNITA, a UNITA hoje é ACJ e ACJ é a UNITA.

O Presidente da República ignorou também o “Presidente da UNITA” que representou a UNITA na construção da paz de Abril, o General Lukamba Paulo Gato, que em 4 de Abril de 2002, era a autoridade máxima da UNITA, a única entidade que nos termos dos Estatutos da UNITA tinha legitimidade e autoridade para ordenar ao General Kamorteiro para “assinar a paz”, o Memorando do Luena. Gato está vivo, é Deputado. Porque não constou da sua lista de convidados?

Porque convidar dissidentes da UNITA para “celebrar a paz” assinada entre o MPLA e a UNITA e não convidar também “dissidentes do MPLA”? Que papel teve o jurista Paulo Tchipilica na construção da paz de Abril para ser convidado? E Jorge Valentim e Tony da Costa Fernandes não agiram como “traidores” ou “desertores” da UNITA? A paz não é um jogo de matraquilhos ou de cabra cega, custou sangue!

Isaías Samakuva, Miraldina Jamba e José Manuel Chiwale são símbolos vivos do sacrifício, do patriotismo e da integridade política de milhões. São templos vivos e impetuosos da luta contra a hegemonia, contra a exclusão e contra a corrupção da história, que não se permitem utilizar como instrumentos de jogadas oportunistas de infantário. Não é nada pessoal, creio, porque no plano pessoal estes Mais Velhos encontram-se e conversam com seus ex-correligionários que tombaram politicamente a certa altura dos seus percursos, pois até são parentes em alguns casos. Mas no dia da paz, no “Palácio da República”, é preciso separar bem as águas e não confundir as coisas.

Estou convencida que a composição da lista de convidados é em si mesma um atentado à paz, no qual a sua consciência patriótica não lhes permitiu participar!

Qual foi o critério para compor tal lista? Porquê 20 membros do MPLA, dois da FNLA e três da UNITA para celebrar a paz construída e assinada entre o MPLA e a UNITA? E o “arquiteto da paz”, o Presidente José Eduardo dos Santos, porque não foi convidado?

Pelo que reza a História contada pelo MPLA, a paz de Abril não foi obra dos Mais Velhos “nacionalistas” do processo dos 50 ou mesmo dos Generais da primeira guerra como o General Ingo, Toka, Inga, etc. Porque foram convidados? E o Dr. Alberto Neto, nacionalista do MPLA, porque não foi convidado?

A reconciliação faz-se com o “inimigo”, não com o “amigo” nem com o “colega”. Faz-se com quem “está do outro lado”, não com quem “esteve do outro lado”. É verdade que a reconciliação não se limita ao MPLA e à UNITA mas envolve PRINCIPALMENTE o MPLA e a UNITA. E a UNITA é ACJ, ACJ é a UNITA! Não se pode reconhecer a UNITA e não reconhecer o seu Presidente. Não se pode respeitar a UNITA e não respeitar o seu Presidente! Não é uma questão de gostos, é uma questão de Estado. Quem não é capaz de assumir essa postura com elevação e dignidade, então, não está à altura do cargo que ocupa! Não pode ser símbolo da unidade nacional nem pode ser guardião da democracia que produz a paz.

Uma última palavra sobre a alegada falta de ética. Quem faltou à ética não foi a UNITA, foi quem tornou público um acto privado, um convite que dirigiu a certas personalidades, e não teve a hombridade de tornar público a resposta que eventualmente terá recebido de seus convidados. A ética exige que ao tornar público o nome dos meus convidados e o meu convite também torne público com igual relevo a resposta deles ao meu convite. Quem não fez isso é que ofendeu a ética e não quem agradeceu o convite e foi suficientemente civilizado para explicar as razões objetivas, patrióticas e éticas para declinar respeitosamente e com sentido de Estado tão “honroso convite”.

A peça teatral montada à volta do almoço da paz e sabiamente desmontada pela UNITA só veio provar aos angolanos, mais uma vez, que a UNITA é uma só, a UNITA está coesa, a UNITA está atenta, a UNITA está com o seu Presidente. Veio provar também que o Presidente da UNITA retratou com exatidão a situação política do país quando afirmou que o Partido Estado utilizou e utiliza a “paz de Abril” para subverter a “paz democrática”.

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