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Óbito/José Eduardo dos Santos: João Lourenço esvaziou “ódio” dos revús pelo ex-presidente José Eduardo dos Santos

O Ativista angolano Hitler Samussuku defendeu hoje que a governação de João Lourenço “praticamente esvaziou” o ódio que o movimento revolucionário angolano tinha por José Eduardo dos Santos e hoje os ativistas têm até compaixão pelo ex-presidente de Angola.

“Pensávamos que o José Eduardo dos Santos seria o cúmulo de tudo, mas agora nós temos uma pessoa que conseguiu salvar a pele do próprio José Eduardo Santos. A raiva, o ódio que nós tínhamos por ele, sobretudo nos anos de 2015, 2016, a governação de João Lourenço praticamente esvaziou tudo aquilo. E começamos até a ter pena (…) pela forma como MPLA [Movimento Popular para a Libertação de Angola, no poder] o humilhou”, disse o ativista, um dos 15 ‘revús’, jovens autointitulados revolucionários que foram presos em 2015 por protestarem contra o Governo de José Eduardo dos Santos.

Em declarações à Lusa no dia em que o ex-presidente angolano morreu aos 79 em Barcelona, Samussuku equiparou a forma como o Governo do Presidente João Lourenço tratou o seu antecessor aos “regimes do tipo leninista”, que têm “essas estratégias de eliminarem ou anularem os feitos dos seus líderes”.

O ativista recordou que, enquanto José Eduardo dos Santos “precisou de 38 anos” no poder até “ser o que foi”, João Lourenço, “em apenas cinco anos, mostrou ser pior” do que o seu antecessor.

E citou exemplos: “No tempo de José Eduardo dos Santos, que todos nós chamámos de ditador, nós tínhamos muitos jornais privados a circularem em Angola. Com João Lourenço, temos apenas dois jornais a circularem. No tempo de José Eduardo dos Santos, os líderes da oposição (…) passavam a televisão pública. Atualmente não é possível os líderes da oposição terem tempo na televisão pública”.

E disse ainda que no tempo do ex-presidente “não havia muita tensão” entre os partidários do Governo e a oposição, enquanto atualmente se vive “uma atmosfera de medo”.

“Aquele conceito de paz que nós tínhamos com José Eduardo dos Santos, de que ele era o arquiteto da paz, atualmente já não temos. Ou seja, a morte do José Eduardo dos Santos provavelmente vai deixar (…) um vazio, precisamente, de uma referência moral para a paz”, alertou.

Para Samussuku, João Lourenço criou “um clima de medo”: “Todo o mundo tem medo, todo mundo tem dúvidas do que é que será de amanhã, se as eleições vão acontecer bem ou mal. Nós estamos a correr o risco de ter as eleições mais fraudulentas desde 1992”.

Enviando condolências à família do ex-presidente, disse ter “compaixão” pela forma os seus familiares são “perseguidos”, o que considerou injusto “pois José Eduardo de Santo e esses familiares [não são as] únicas pessoas que roubaram de Angola”.

“O Manuel Vicente roubou dinheiro de Angola, o Edeltrudes [Costa], o Higino Carneiro roubou dinheiro, mas eles estão livres, eles estão aí com imunidades”, disse.

Embora apresentando-se como defensor dos direitos humanos e lamente a perda de vida de José Eduardo dos Santos, “enquanto ser humano”, o ativista afirmou que a morte do ex-presidente “não significa absolutamente nada” na sua vida.

“O que eu espero mesmo é que todo MPLA saia do poder, talvez isso possa deixar-me muito mais alegre”, afirmou.

Tambémo luso-angolano Luaty Beirão, outro dos 15 ativistas “revolucionários” presos em 2015, que chegou a fazer uma greve de fome como protesto político, manifestou hoje indiferença quanto à morte de José Eduardo dos Santos.

“Hoje consumou-se apenas a perda dos sinais vitais, o cidadão, esse, já andava “morto” desde 2018. Zero pena, zero emoções, é-me completamente indiferente. Com licença, tenho a semifinal do Wimbledon por assistir”, escreveu o músico e ativista na rede social Twitter.

José Eduardo dos Santos morreu hoje aos 79 anos numa clínica em Barcelona, Espanha, após semanas de internamento, anunciou hoje a presidência angolana, que decretou cindo dias de luto nacional.

José Eduardo dos Santos governou Angola entre 1979 e 2017, tendo sido um dos Presidentes a ocupar por mais tempo o poder no mundo e era regularmente acusado por organizações internacionais de corrupção e nepotismo.

Em 2017, renunciou a recandidatar-se e o atual Presidente, João Lourenço, sucedeu-lhe no cargo, tendo sido eleito também pelo Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), que governa no país desde a independência de Portugal, em 1975.

 

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