Os organizadores das manifestações de sábado em Angola criticaram hoje a “cultura de intimidação”, a atuação da polícia e a cobertura dos meios de comunicação social estatais, defendendo que é preciso investigar quem morreu e em que circunstâncias.
“Aguardamos pelas acusações, mas ficou por demais demonstrada a cultura de intimidação de quem queira exercer o seu direito de cidadão autónomo para criticar e usar a rua para se exprimir”, lê-se num comunicado, no qual se critica também “os desvios repetidos da lei por quem tem a função de a defender”.
Em causa está a atuação das autoridades durante as manifestações de sábado em Angola, que resultaram em 87 detenções, das quais 32 em Luanda e 55 em Benguela, entre as pessoas que se manifestavam contra a subida dos preços dos combustíveis, fim da venda ambulante e proposta de alteração dos estatutos das organizações não-governamentais (ONG).
“A persistente ação da TPA, JA e RNA [televisão, jornal e rádio estatais), de ocultar factos, ouvir apenas uma linha de opinião e, frequentemente, difundir mentiras sem qualquer preocupação pelo contraditório e pela verdade, tem de ser denunciada e corrigida”, dizem os ativistas.
Por isso, apelam “a todos os cidadãos, independentemente do partido de que se sintam mais próximos ou do lugar onde trabalhem, a contribuírem” para libertar deste “ambiente de repressão e mentira, participando, divulgando e confrontando a ilegalidade e a instrumentalização das instituições”.
“Apelamos para que se investigue, por mecanismos independentes, em que circunstâncias morreram pessoas, quem colocou pneus na via pública e quem usou indevidamente de meios violentos, de forma indiscriminada, nas ruas por onde passaram os manifestantes e noutras que foram tratadas como zonas onde residem inimigos”, defende-se ainda.
As manifestações, referem os organizadores, “são o resultado direto do que muitos cidadãos — no seu direito – consideram serem políticas com uma completa falta de sensibilidade para os impactos sociais, económicos e políticos sobre os mais pobres”.
Oitenta e sete pessoas foram detidas durante as manifestações de sábado em Luanda e em Benguela, segundo o porta-voz da Polícia Nacional de Angola (PNA), devendo ser julgados sumariamente por crimes de arruaça e desobediência.
Segundo o Jornal de Angola (JA), que cita o porta-voz do Comando Geral da Polícia Nacional, subcomissário Mateus Rodrigues, foram detidos 32 manifestantes em Luanda e 55 em Benguela, no âmbito dos protestos contra a subida dos preços dos combustíveis, fim da venda ambulante e proposta de alteração dos estatutos das ONG que levaram milhares de angolanos à rua.
Informações de ativistas dão conta de detidos em outros locais, designadamente Cabinda, Bié e Huambo. A Lusa contactou a Polícia Nacional para obter mais esclarecimentos, mas não obteve resposta.
Os protestos foram reprimidos em Luanda e Benguela com a polícia a usar gás lacrimogéneo e disparos contra os manifestantes, o que resultou num número indeterminado de feridos, incluindo sete elementos das forças de segurança, segundo a Polícia Nacional de Angola (PNA).
As autoridades afirmam que não se registaram incidentes nas restantes províncias.