Os bispos da Conferência Episcopal Angola e São Tomé (CEAST) manifestaram hoje preocupação com o nível alto de criminalidade e de insegurança no país, que atingiu no último ano mais de 60 instituições da igreja católica.
A inquietação foi expressa pelo presidente da CEAST, Filomeno Vieira Dias, na abertura da II assembleia ordinária que se realiza em Luanda.
O também arcebispo de Luanda disse, na sua intervenção virada para a vida social do país e eclesial, que “a violência toma conta do meio urbano e assusta as pessoas, angolanos e estrangeiros residentes no país que se sentem inseguros e com medo”.
Segundo Filomeno Vieira Dias, “a segurança, a tranquilidade, o sentir-se bem, é um elemento imprescindível para a convivência social e para o desenvolvimento das sociedades”.
O presidente da CEAST afirmou que os bens eclesiásticos são continuamente atacados, multiplicando-se os assaltos e profanação aos templos.
“Só nos últimos 12 meses, e isto é uma mostra apenas, na zona de Caxito, Luanda e Viana, instituições da igreja, mais de 60 instituições – paróquias, escolas, centros de saúde, residências paroquiais e de religiosas – sofreram assaltos. Algumas a dois passos de unidades policiais, como a igreja da Nazaré, em Luanda, paralela ao edifício do Ministério do Interior, e a [igreja] dos Remédios, no mesmo largo da primeira esquadra de Luanda”, referiu o arcebispo de Luanda.
De acordo com o presidente da CEAST, “a insegurança nos principais centros urbanos atingiu os níveis mais altos”, sendo prova disso os números revelados nos órgãos de comunicação social.
“A [TV] Zimbo noticiou que mais de 60 pessoas morreram, em mais de 250 acidentes, nos últimos sete dias, e que cerca de 769 crimes de natureza diversa foram registados no primeiro semestre de 2021, só na província do Bengo. É alarmante e preocupante, mais do que isto assustador”, acrescentou.
O prelado frisou que, nos últimos dias, “os depoimentos dos cidadãos na rádio são um misto de desespero, medo e revolta, um pranto clamando ajuda, pois a violência toma conta das cidades e assusta as pessoas”.
“Uma das consequências deste facto é justamente o de a polícia ser, neste momento, uma das instituições que nestes dias menos confiança e aprovação recebe dos cidadãos. Não sabemos em quem confiar, o que obriga muitas vezes à procura de uma segurança particular ou à prática da justiça por mãos próprias, o que não é bom”, vincou.
Além das pessoas, são também atingidos bens públicos, sublinhou Filomeno Vieira Dias, reprovando a vandalização de escolas, equipamentos sociais e habitacionais em construção, redes elétricas e de saneamento e de canalização.
“Quem protege, quem defende, estes bens, que são de todos? Ora, a função da polícia é das mais nobres numa sociedade, uma função eminentemente social e de grande proximidade do cidadão, zelar pela segurança pública, fornecendo proteção ao cidadão e aos bens públicos e privados, proporcionando à comunidade viver com harmonia, esta é a sua missão, a sua natureza, a sua finalidade, a sua razão de ser”, apontou.
“O nosso voto é vermos a nossa polícia a recuperar a sua incorruptível e sublime missão para o bem de toda a sociedade”, acrescentou.
O comandante-geral da Polícia Nacional de Angola, comissário-geral Paulo de Almeida, disse que a situação de segurança pública em Angola continua estável e sob controlo das autoridades competentes.
Paulo de Almeida, que falava na abertura, terça-feira, do ano académico 2021 do Instituto Superior de Polícia, afirmou que as cifras criminais nunca abalaram a situação geral de segurança pública, porquanto as instituições públicas e privadas funcionam em pleno, há livre circulação de pessoas e bens em todo o território nacional.
Citado na página da rede social Facebook do Ministério do Interior, Paulo de Almeida repudiou certos comportamentos que tendem a passar uma mensagem de medo e insegurança aos cidadãos, usando para isto as redes sociais.
“A má utilização das redes sociais tem feito com que algumas pessoas de má-fé se aproveitem e espalhem mensagens que tendem a intimidar os incautos cidadãos”, considerou Paulo de Almeida.