A maioria dos mais de 360 representantes de organizações da sociedade civil africana e europeia que participaram no inquérito reconhecem “elevada” importância, mas avaliam negativamente.
A parceria entre a Europa e África não está a funcionar ou funciona mal, de acordo com a perceção de representantes da sociedade civil, apresentada esta sexta-feira numa conferência sobre o futuro do relacionamento entre os dois continentes.
A maioria dos mais de 360 representantes de organizações da sociedade civil africana e europeia que participaram no inquérito reconhecem “elevada” importância às relações afro-europeias, mas avaliam negativamente a qualidade do relacionamento.
Promovido pelas plataformas de organizações não-governamentais para o desenvolvimento VENRO, da Alemanha, Plataforma Portuguesa das ONGD e SLOGA, da Eslovénia, o inquérito foi realizado pelo instituto alemão Allensbach de Investigação da Opinião Pública.
Um total de 363 pessoas (221 de África e 142 da Europa) participaram na pesquisa, a maioria ligadas a áreas dos direitos humanos, ambiente e alterações climáticas.
Cerca de 97% dos participantes consideram uma cooperação mais estreita entre África e a Europa “muito importante” ou “importante“, mas mais de dois terços acreditam que essa cooperação “não está a funcionar bem” ou “não funciona de todo”. A proporção de avaliações negativas é significativamente menor entre os africanos (50%) do que entre os europeus (84%), revela o estudo.
Quase todos os inquiridos (93%) são a favor da intensificação das relações entre África e a Europa e, entre as prioridades identificadas na nova estratégia da União Europeia para África, o crescimento sustentável que resulte na criação de empregos é considerada a mais importante para 42% de africanos e 31% de europeus.
Seguem-se a paz, segurança e governação, (27% africanos e 22% europeus) e a “transição verde e acesso à energia (13% africanos e 21% europeus). Em contraste, as áreas das migrações e mobilidade (3% africanos e 12% europeus) e transformação digital (4% africanos e 1% europeus), fortemente enfatizadas pela UE, quase não são mencionadas.
Outra das conclusões do inquérito revela que a maioria dos participantes(71%) está pouco ou nada familiarizada com a cooperação política entre a União Africana e a União Europeia, iniciada em 2007, (Parceria UE-África). Entre os inquiridos que conhecem melhor ou já ouviram falar da parceria, apenas 9% pensam que as preocupações e posições das organizações da sociedade civil são suficientemente tidas em conta.
No mesmo sentido, 89% dos participantes gostariam de ver a sociedade civil mais envolvida, tanto através dos governos nacionais como da cooperação direta com as duas organizações regionais. Por outro lado, o estudo indica que 79% dos entrevistados em África e 84% na Europa trabalham regularmente com representantes da sociedade civil no outro continente.
Os resultados do inquérito foram apresentados esta sexta-feira, a partir de Lisboa, numa conferência “online” organizada pela Plataforma Portuguesa das Organizações Não Governamentais para o Desenvolvimento (ONGD) no âmbito da Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia, que decorre até junho.
A conferência “Uma Parceria entre iguais: a relação África União Europeia (UE) num mundo cada vez mais complexo” juntou representantes da União Africana, União Europeia, do Governo português e de organizações não-governamentais europeias e africanas numa discussão sobre “os princípios fundamentais” no centro de uma “parceria genuína e significativa” entre os dois blocos.