O correspondente da Reuters em Angola foi hoje agredido pela polícia e viu o seu material de trabalho destruído, durante a tentativa de uma manifestação organizada por jovens ativistas para reclamar melhores condições de vida.
A informação foi avançada à Lusa pelo próprio jornalista, que diz ter sido detido por alguns minutos pela polícia, apesar de ter se identificado, entretanto solto alguns instantes depois.
“Estava identificado, mostrei o meu passe, levantei as mãos, mesmo assim eles partiram para agressão, quase partiam a câmara e detiveram-me por alguns minutos”, disse Lee Bogotá, que ficou com marcas no corpo devido às agressões.
Lee Bogotá descreveu que estava no meio da manifestação, tentou falar com os polícias e depois disso começou a ser atacado, tendo ficado sem as câmaras fotográfica e de vídeo e o microfone.
O incidente deu-se na zona do Jumbo, na avenida Deolinda Rodrigues, contou ainda o jornalista, salientando que se encontra nesta altura em casa de um familiar, próximo do local onde ocorreu a situação, porque a polícia o estava a obrigar a seguir os manifestantes, tendo ele insistido para regressar à cidade.
“Só que eles fizeram uma barreira aqui na rotunda e eu não conseguia passar essa barreira, por sorte tenho uma prima aqui e estou na casa dela agora”, explicou.
Na última tentativa de manifestação em Luanda, no passado dia 24 de outubro, entre as centenas de manifestantes detidos estavam igualmente seis jornalistas, que se encontravam devidamente identificados e a cobrir a manifestação, tendo sido alguns, horas depois, e outros, dois dias depois, soltos sem qualquer explicação sobre as suas detenções.
Sobre este facto, o Presidente angolano, João Lourenço, lamentou a situação na sua última intervenção na reunião do Comité Central do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), partido que lidera, frisando que não queria mais ver acontecer casos do género.
Angola assinala hoje 45 anos da independência do país, sendo um dia de feriado nacional, em que estava prevista a realização de uma manifestação, organizada por um grupo de jovens ativistas, para exigir melhores condições de vida e a marcação de uma data para as primeiras eleições autárquicas.
O Governo da Província de Luanda proibiu a realização desta manifestação, evocando diversos motivos, um dos quais o não cumprimento do Decreto Presidencial sobre o estado de calamidade pública, que impede ajuntamentos de mais de cinco pessoas nas ruas, como medida de prevenção e combate à propagação da covid-19.
A polícia impediu a tentativa de manifestação, tendo recorrido ao uso de força e de gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes, havendo o relato de feridos e algumas detenções.