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Portugal: Doentes deixam “hospitais públicos” para recorrer a curandeiros na província angolana do Kwanza Norte

Na província angolana do Kwanza Norte muitos doentes optam por abandonar os hospitais para recorrer aos curandeiros tradicionais. O mau atendimento nos hospitais é apontado por alguns como a causa dessa escolha.

Joaquim Raúl Ganga é psicólogo clínico no hospital sanatório do Kwanza Norte e vê com frequência pacientes a abandonar o tratamento médico para procurar os curandeiros tradicionais.

“Infelizmente, grande parte dos utentes acaba abandonando o tratamento, o que dificulta a sua melhoria”, relata preocupado o psicólogo.

Segundo o profissional, outros pacientes chegam demasiado tarde ao hospital. “O fator cultural ainda exerce muita força. Até o paciente chegar às nossas instalações já recorreu a vários caminhos ligados à tradição”, lamenta.

Má experiência nos hospitais

José Cassule Kakola, terapeuta tradicional que trabalha essencialmente com ervas locais, diz que a má experiência dos pacientes nos hospitais é o que leva muitos deles a recorrer aos curandeiros.

“A humanização é que faz com que o paciente adquira a boa cura. Quando se recebe o paciente com o rosto carrancudo, sem amor, o paciente não cura. Nos hospitais, às vezes, o médico sai e o enfermeiro não consegue resolver exaustivamente sem que o médico esteja presente, então o paciente acaba muitas vezes por morrer”, explica.

Antonieta da Costa, jovem formada em Ciências Religiosas e Educação Moral e Cívica, partilha dessa tese e conta que muitos pacientes receiam os hospitais por causa do mau atendimento.

“Os técnicos (nos hospitais) têm que saber que alguma da população que vai aos hospitais é uma população com uma educação ‘menos regrada’ e deve ser igualmente bem tratada”, frisa.

Vida em risco

Antonieta da Costa sublinha os problemas que o recorrer a alguns curandeiros ou “adivinhos” pode acarretar, podendo estar em risco a própria vida das pessoas.

“Por uma questão de crença e cultura, a alternativa é irem a estes lugares, às chamadas casas de ‘kimbandeiros’, adivinhos de santos, curandeiros que trabalham com plantas, adivinhações, xinguilamentos, e todo o fenómeno cultural religioso africano. Em alguns casos, têm-se dado bem, porque a medicina natural hoje já é um campo de estudo e tem salvado muita gente. Mas quando não se estuda ou quando está ligado ao misticismo é perigoso”, explica.

Por isso, o ativista de direitos humanos Faria Pascoal diz que é trabalho das autoridades governamentais e da sociedade civil informar mais os cidadãos.

“Precisamos de trabalhar para que as comunidades mudem de mentalidade e para que as entidades estejam mais próximas dos cidadãos”, defende.

Dificuldades nos hospitais

O psicólogo clínico Joaquim Raúl Ganga admite que, por vezes, faltam medicamentos nos hospitais, ou que, às vezes, as famílias não conseguem pagar a medicação, mas esclarece que não é verdade que os pacientes morram por falta de cuidados médicos.

“Não, não diria que há muitas mortes hospitalares porque, quando um paciente é assistido numa determinada unidade hospitalar, normalmente há todo um aparato técnico para a sua recuperação, e, felizmente, temos tidos bons resultados quanto a isso. A prova disso é que temos tido muitas altas, porque os pacientes melhoraram”, conclui.

 

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