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Portugal: Embaixador António Monteiro espera “diálogo em Angola” entre João Lourenço e José Eduardo dos Santos em nome da estabilidade

O embaixador António Monteiro alertou hoje que é preciso evitar “o perigo” de instabilidade em Angola nas próximas eleições presidenciais e disse que espera diálogo entre o atual Presidente e o seu antecessor, tendo em conta o interesse do país.
O atual presidente do conselho de administração da Fundação Millennium BCP, que ao longo da sua carreira diplomática assumiu vários cargos nas Nações Unidas, disse, em entrevista à Lusa a propósito da realização da próxima Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que confia “no bom senso do atual Presidente de Angola“, João Lourenço, bem como dos angolanos.

“No fundo, penso que ele [João Lourenço] tem uma ligação forte com o antigo Presidente (José Eduardo dos Santos], porque foi uma escolha deste”, considerou, comentando as recentes clivagens do atual governo e da justiça, que tem movido ações contra dirigentes e familiares do antigo chefe de Estado.

No entanto, “é de excluir que os angolanos regressem à violência. Espero que estejam vacinados. (…) Tiveram tantos anos de guerra, de tal maneira destruidora de tudo, que agora devem perceber que os pleitos se resolvem pela via democrática e por umas eleições livres e justas”, e não “à pancada”, sublinhou.

Na opinião do embaixador, que liderou a Missão Temporária de Portugal junto das Estruturas do Processo de Paz em Angola e foi representante junto da Comissão Conjunta Político-Militar, em Luanda (1991), “alguma turbulência haverá. Angola, tal como o Brasil, é uma nau grande, especial, que está integrada numa parte da África, que tem imensa potencialidade, mas também tem riscos”.

Para se perceber isto, basta olhar para situações como as de Zimbabué, África do Sul e até da Zâmbia, referiu.

O país, que vai assumir, por dois anos, a presidência rotativa da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), já na próxima cimeira, a 17 de julho, tem eleições presidenciais marcadas para 2022.

Para o embaixador, porém, uma ameaça de instabilidade política em Angola, não representará “riscos” para a CPLP. “Pelo contrário, Angola é um dos países pivô, pela sua dimensão, pela sua capacidade económica, por aquilo que representará no futuro”.

Para tal, também “é muito importante que Angola perceba e entenda que a presidência da CPLP é uma grande oportunidade para a sua própria reputação, como país e como capacidade de liderança”.

Sobre a corrupção, instabilidade política e algumas práticas antidemocráticas que persistem em muitos dos estados-membros da CPLP, alvo de críticas por parte da comunidade internacional, António Monteiro admitiu “serem problemas reais”, mas considerou que “há melhorias claras”.

Exemplo disso é o combate à corrupção em Angola “claro que pode ter outros contornos, não sabemos. Isso é um problema angolano, não é nosso, eles irão julgar. Mas há um avanço enorme, porque fala-se abertamente do que se está a passar, das posições de cada um. E o Presidente foi muito claro, desde que tomou posse, na via que queria tomar”.

Em 2014, a Guiné Equatorial aderiu à CPLP. Hoje António Monteiro defende “ajuda construtiva” ao país, com um regime autoritário, mas com “uma certa exigência”.

“Temos que encarar o facto de que a Guiné Equatorial é membro da comunidade, e ajudar o mais possível o país a evoluir tão rapidamente quanto possível”, afirmou o embaixador.

Para o atual presidente da Fundação Millennium BCP, “é preciso manter o diálogo construtivo”. Porque “a rutura não ajuda, nem os regimes nem os povos, não ajuda o desenvolvimento”.

Por isso, “evidentemente não admitindo flagrantes violações e repressão de direitos legítimos das populações, devemos e podemos dentro da CPLP constituir até um fator positivo para que a Guiné Equatorial avance mais depressa no campo da democracia”, defendeu.

António Monteiro recordou os compromissos assumidos que continuam por cumprir: “Tem havido progressos, mas (…) não ao ritmo que nós gostaríamos, a um ritmo seu [do país], também imposto pelas condições internas de evolução”.

A Guiné Equatorial, antiga colónia espanhola, tornou-se membro de pleno direito da CPLP em julho de 2014, mediante um “roteiro de adesão” que incluía a divulgação do português como língua oficial e a abolição da pena de morte, medida que ainda não foi ratificada pelo Presidente equato-guineense, Teodoro Obiang.

Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, são Tomé e Príncipe e Timor-Leste são os Estados-membros da CPLP.

 

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