Em Benguela, a polícia frustrou uma marcha de estudantes contra o aumento de 25% das propinas nas instituições superiores de ensino. Ativistas querem a revogação do decreto que “está a deteriorar” a educação em Angola.
Rui Valles, coordenador do movimento Lev Arte na província angolana de Benguela, lamenta o facto de os manifestantes terem sido impedidos de marchar como estava previsto.
“Hoje, saímos para marchar conforme a solicitação deixada no Comando Municipal da província de Benguela. Mas, infelizmente, não foi possível marcharmos por proibição de decreto. Estão aqui a ferir os nossos direitos”, disse.
“O povo é soberano do país e nenhum decreto está acima do povo. Nenhum decreto está acima da nação. Não é possível aumentar-se o preço das propinas. Nós queremos manifestar, mas os polícias estão a mostrar que estão prontos para nos deter”, acrescentou.
Falta de ensino de qualidade
Maria do Carmo Correia, membro da Lev Arte, diz que a atual conjuntura económica do país não favorece o aumento das propinas nas universidades.
“O que nos preocupa é a subida das propinas, a má qualidade de ensino nas escolas, a falta de materias para qualidade de ensino, de laboratórios, de bibliotecas, e de professores qualificados nas nossas escolas aqui em Benguela. Mas, mesmo assim, ainda foi publicada esse Decreto 420/21 que visa ao aumento das propinas. E nós não estamos em condições, não só nas escolas por falta de qualidade, como também a vida dos angolanos”, explica.
“Nos últimos anos, o angolano está viver por momentos difíceis, porque perdemos o poder de compra com o aumedto da cesta básica e os nossos pais estão desempregados”, complementa Maria do Carmo.
Cresce a insatisfação
Lourenço Ezequias diz que não está satisfeito com a decisão do aumento de propina. “Estamos a reclamar porque não nos vemos satisfeitos com as últimas decisões do Ministério da Educação, sobretudo este decreto que menciona a subida do preço da propina de 25% nas universidades privadas do país”, afirma.
“Isso não faz sentido, porque o custo de vida está alto e os jovens que nem têm condições de fazer a faculdade. Então, subindo mais uma percentagem, estaremos a infernizar a vida do povo.”
O ativista cívico Gabriel Kundi diz que o aumento das propinas é um ato “maquiavélico e injusto”. “Nós enquanto cidadãos e parte deste Estado não podemos permitir que o Governo, na pessoa do Presidente João Lourenço, aprove uma lei que coloca a juventude em posição desvantajosa”, critica.
A ativista Florence Afonso, de 17 anos, está inconformada com a situação. “Somos estudantes e a nossa luta é contra o Governo que não vela pelo seu povo, mais sim pelo seu bolso”, disse.
“Nosso Presidente João Lourenço alguma vez disse que o futuro de Angola está na educação do homem e não no preço do petróleo. Agora, será que as práticas do nosso Presidente vão de acordo com a realidade?”, questionou a jovem.