José Eduardo dos Santos deverá viajar para Luanda durante este mês de Junho, pondo assim um ponto final numa longa ausência do país. O ex-Presidente da República saiu de Angola em Abril de 2019 e desde então fixou residência em Barcelona.
A excepção a esta espécie de exílio foi uma deslocação ao Dubai para estar ao lado da filha, Isabel dos Santos, após a morte do marido desta, Sindika Dokolo. José Eduardo dos Santos permaneceu no Dubai entre Dezembro de 2020 e Abril de 2021, tendo depois voltado à capital da Catalunha.
“O provável regresso de José Eduardo dos Santos a Angola é aguardado com expectativa, tendo em consideração que se desconhecem as suas motivações. Assim, qualquer intervenção do antigo chefe de Estado, será escrutinada minuciosamente, para se avaliar o grau da extensão da ruptura com o seu sucessor, João Lourenço, e perceber se existe alguma hipótese de reparação desta”.
José Eduardo dos Santos tem contado com menos apoio, na medida em que um dos seus indefetíveis e visita regular em Barcelona, o general Leopoldino Fragoso do Nascimento (Dino), está impedido de sair de Angola, o mesmo acontecendo com o general Hélder Vieira Dias (Kopelipa).
Num contexto em que o MPLA está em ebulição e João Lourenço ainda não conseguiu dobrar o cabo das tormentas da crise económica, qualquer intervenção pública de José Eduardo dos Santos terá um enorme impacto, atendendo até à proximidade das eleições gerais que se irão disputar em 2022. Este ínterim abrirá espaço para especulações, sobretudo no sentido de adivinhar qual será o posicionamento do antigo líder face à governação do país.
No Radar África publicado a 3 de Novembro de 2020, “sustentou-se que uma viagem de José Eduardo dos Santos a Angola seria fundamental para ultrapassar os diferendos políticos e judiciais que opõem o clã dos Santos a João Lourenço, este enquanto personificação do Estado. Todavia, as escassas informações disponíveis não apontam nesta direcção”.
Pelo caminho, o actual Chefe de Estado e líder do MPLA tem consolidado o seu poder. A exoneração de mais de 10 oficiais generais, incluindo o ministro de Estado e chefe da Casa de Segurança do Presidente angolano, Pedro Sebastião, na sequência da denominada Operação Caranguejo, atesta isso. A acção conduziu à detenção do major Pedro Lussaty, ligado à Casa da Segurança, o qual tinha na sua posse milhões de dólares, kwanzas e euros, criando um anátema de suspeitas em torno desta estrutura de apoio a João Lourenço.
O MPLA reagiu a este processo com elogios ao Presidente da República, sublinhando a “coragem e convicção demonstrada” na gestão de uma situação “sensível” e pedindo-lhe para “permanecer firme na liderança do combate sem tréguas à corrupção, à impunidade e ao nepotismo”.