A organização de direito MISA Angola emitiu domingo um comunicado no qual protesta contra as tentativas de pressão sobre uma equipa TV Zimbo durante a cobertura de uma iniciativa da UNITA em Luanda, que decorreu no sábado.
A nota de protesto, assinada pelo presidente do conselho de governadores, André Mussamo, o Instituto para a Comunicação Social da África Austral (MISA Angola, na sigla inglesa), “reputa de grave qualquer atitude, seja implícita ou explícita, por atos ou omissões que visem transferir, sobre esta classe de profissionais, alguma forma de fúria ou peleja entre os protagonistas da disputa política, colocando em risco valiosas vidas humanas, meios técnicos e materiais de uso profissional”.
O comunicado apela ainda para que as “lideranças optem, nos seus discursos e atos pela premissa de deixar claro que não será e nunca foi por via da molestação de equipas de jornalistas que se vai conseguir qualquer que seja o resultado ambicionado”.
O texto sublinha ainda que “a urbanidade e respeito pelo trabalho de qualquer um que, é convocado pela própria dinâmica da vida em sociedade democrática, como é o caso dos jornalistas, ainda que persistam diferenças devia e devem ser uma cultura inculcada em todos”.
A MISA Angola apela ainda para que as situações que envolvam o desempenho dos “servidores do direito” e as “garantias de uma cobertura jornalista” equilibrada devem ser debatidos “em fóruns e canais apropriados, em busca de saídas a contento de todos”.
Previamente, e ainda no domingo, o Sindicato dos Jornalistas de Angola (SJA) tinha já repudiado as ameaças contra jornalistas dos canais públicos TPA e TV Zimbo que tentavam cobrir uma marcha da UNITA e disse que estes não são responsáveis pelo posicionamento dos seus órgãos.
Os profissionais da imprensa foram intimidados e ameaçados por manifestantes durante a cobertura da marcha que juntou no sábado, em Luanda, milhares de apoiantes e simpatizantes da UNITA e outros partidos da oposição angolana, bem como membros da sociedade civil, exigindo eleições justas, livres e transparentes.
“O SJA condena veementemente esta atitude e qualifica-a como sendo uma obstrução ao exercício de liberdade de imprensa que é um direito fundamental que todas as entidades públicas e privadas devem respeitar”, disse à Lusa o presidente do sindicato, Teixeira Cândido.
Instado a comentar um comunicado difundido pelo Ministério das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social (MINTTICS), que lamentou a agressão e intimidação a que foram sujeitas as equipas de reportagem, solidarizando-se com os jornalistas e apelando às entidades de defesa dos jornalistas para não se calarem “diante da flagrante e condenável situação de intolerância política”, Teixeira Cândido considerou que foi “despropositado”.
“Foi despropositado, em primeiro lugar, quanto à referência às entidades que defendem a classe, como se precisassem de um impulso. O SJA sempre defendeu os jornalistas, filiados ou não, e sempre manifestou a sua solidariedade” afirmou.
Teixeira Cândido estranhou, por outro lado, que o MINTTICS “faça sair um comunicado só agora” e nunca se tenha pronunciado noutras ocasiões.
“Temos tido várias situações em que os jornalistas foram agredidos, detidos ou impedidos de fazer o seu trabalho e o Ministério não se pronunciou. Por isso, foi uma surpresa”, disse o responsável do SJA.
O sindicalista manifestou-se preocupado face aos riscos a que os jornalistas estão expostos e disse que a UNITA deve também zelar pela proteção dos jornalistas: “dado o clima que se vive devia solicitar à polícia que fizesse um cordão de segurança”, sugeriu.
O presidente da UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola), Adalberto da Costa Júnior, dirigiu-se no sábado aos seus apoiantes, criticando os atos de intolerância contra a imprensa pública, afirmando que “os jornalistas não são culpados da censura na televisão pública”.
“Os jornalistas que estão aqui a cobrir este ato levam as imagens, depois se as imagens não passam (isso) vem das ordens superiores, portanto os atos de intolerância não devem continuar”, apelou.
Os dois canais estatais lamentaram a intimidação e tentativas de agressão de que foram vítimas os jornalistas.
A TPA queixou-se de intolerância, afirmando que o jornalista que fazia a cobertura teve de ir disfarçado para não ser identificado.
Numa nota da direção, o canal público salientou que a UNITA solicitou cobertura jornalista da iniciativa, mas que, já no local, os integrantes da equipa de reportagem “depararam-se com um conjunto de insultos e ataques verbais e físicos, atentatórios” à sua integridade física e moral.
“Mais do que repudiar tamanha agressão, a TPA regista, com preocupação, que um partido político veja nos jornalistas adversários e transfira para estas frustrações pelo fracasso nas contendas com os seus reais contendores”, lê-se no documento, em que o canal alerta ainda para o perigo que este tipo de comportamentos representa para a consolidação dos valores da democracia.
A TPA sublinha, por outro lado, que “enquanto a direção da UNITA não se retratar publicamente, a TPA reserva-se no direito de proteger os seus jornalistas, não enviando equipas para cobrir atividades de iniciativa deste partido”.
Quanto ao repórter da TV Zimbo (canal que pertencia ao grupo privado Medianova e foi nacionalizado no âmbito do programa de recuperação de ativos construídos com fundos púbicos para o Estado angolano) foi alvo de intimidação quando se preparava para fazer um direto.
“Este sábado, simpatizantes, militantes e amigos da UNITA não deixaram os jornalistas da TV Zimbo fazerem o seu trabalho, colocando em perigo a integridade física dos repórteres, que se viram forçados a interromper a cobertura e transmissão em direto no jornal às 13 horas e que até mereceu a abertura do respetivo noticiário”, disse a direção de informação num comunicado.
O canal pediu ainda à UNITA “que tenha uma cultura de paz e de cidadania, e que oriente os seus militantes, simpatizantes para que respeitem os valores consagrados na Constituição”.