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Portugal: “Não há regresso ao passado (vivo) na UNITA” – Ana Maria Simões

Em tempos, em conversa com Adalberto da Costa Júnior, numa das várias que tivemos por questões profissionais – da relação de jornalista com o actor político – fiquei com a ideia que o então candidato a candidato nunca enfrentaria o então presidente do partido, Isaías Samakuva, por inúmeras razões, e talvez a mais decisiva, acredito, seria porque poderia perder para ‘o mais velho’.

Mas isso foi nos idos de 2018. De 2019 em diante, na UNITA, e apesar de algum movimento das placas tectónicas nas profundezas tribais e outras, Adalberto Costa Junior consolidou-se como líder de um partido que se assume, mais do que nunca, como alternativa do poder, perdendo identidade, se for caso disso, para afirmar isso mesmo numa ‘frente unida’ da oposição.

Aqui chegados, ninguém se surpreenderá por aí além se ACJ for o único candidato à liderança do Galo Negro, mesmo que isso vá contra a tal ideia de pluralidade interna que a Unita sempre defendeu – até por oposição ao MPLA -, mas ninguém em seu juízo perfeito e bem intencionado se candidatará contra ACJ. Ainda assim, não sei como vai ser, mas uma coisa tenho para mim: os tempos mudaram, e hoje é Isaías Samakuva que pelo seu prestígio e legado não se deve candidatar contra Adalberto Costa Júnior. Porque pode perder? Não. Porque manter ACJ na liderança é a única resposta que a Unita pode dar ao ‘golpe constitucional’, cujo acordão tantos – quase todos – os juristas angolanos escamotearam, ponto por ponto, até os pontos prévios saídos do BP do MPLA e da mente de obscuros militantes da Unita.

Também por isso, os acontecimentos dos próximos dias vão ser determinantes.

O primeiro, a manifestação de apoio a Adalberto Costa Júnior, pode ser um disparate. Porque os jovens activistas têm agendas confusas e dispersas e instrumentalizar a figura do líder da Unita, deposto pelo Tribunal Constitucional, pode ser contraproducente. Cabe à Unita e só à Unita resolver esta questão.

O segundo acontecimento, e a meu ver, ainda mais marcante, pode ser – vai ser, diria – o discurso do ‘Estado da Nação’, do Presidente João Lourenço. O Presidente pode dar ao MPLA aquilo que o partido não tem neste momento: discurso.

Em qualquer parte do mundo, um partido que está no poder há 45 anos é um partido em erosão, é quase uma fatalidade, é assim porque é assim. Quem anda pelas ruas de Luanda sente a pobreza e a mendicidade como uma agressão constante, uma sentimento de insegurança perene, que quase entra connosco em casa. Quem tem contacto com a realidade, sente os males do país de uma forma muito inquietante.

“Vamos resolver os problemas do povo”, está escrito na pedra do Memorial António Agostinho Neto, e bem, porque as palavras são dele. E esse é o tanto que falta. Sem discurso, o ’eme’ voltou-se para o partido da oposição, ou melhor, concentrou-se em Adalberto Costa Junior, no óbvio discurso de ‘nós podemos não ser bons, mas olhem que eles ainda são piores, vejam o líder, uma fraude’. E funciona. Claro que funciona, e funcionava ainda melhor se isso fosse acompanhado de políticas públicas concretizadas, implantadas, visíveis, transformadoras.

E é aí… que entra o Presidente da República e o discurso à Nação do Estado a que se chegou. Esperemos que o Presidente não se coloque no papel de chefe de fila, mas que dê aos angolanos (e a todos os que vivem em Angola), e numa altura em que os indicadores económicos são devastadores, esperança, conforto e uma vaga sensação de segurança. Porque, afinal, dizem todos – poder e oposição – que este país é um Estado de Direito e democrático. Cumpra-se, verdadeiramente. Sempre li que os grandes políticos defendiam que em situações de crise a verdade é a única forma de seguir adiante com o apoio soberano do povo.

 

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