A governação de João Lourenço tem dado sinais contraditórios. A luta contra a corrupção garante-lhe boa imagem externa. Já no plano interno, a tese de que é mais do mesmo com protagonistas diferentes começa a ganhar terreno.
Angola vai entrar em 2022 com sinais contraditórios. Por um lado, o Presidente da República, João Lourenço, continua a passar a mensagem de que o combate à corrupção constitui a prioridade do governo. Por outro, a forma como o governo lida com o setor empresarial alimenta o juízo de que existem grupos favorecidos, casos da Omatapalo e Carrinho, assim como da Gemcorp.
Em paralelo, a própria ministra das Finanças, Vera Daves Sousa, “já sentiu a necessidade de avisar que muitos dos procedimentos de contratação simplificada aprovados pelo Presidente da República não estão conforme a lei da contratação pública e têm sido decididos sem consulta prévia do seu ministério, uma condição que está prevista na lei que regula esta tipo de contratos”.
Este panorama leva a que comece a ganhar corpo a tese de que João Lourenço, em certos aspetos da atividade empresarial, está a repetir o mesmo modo de atuação do seu antecessor, sendo que a única diferença reside nos protagonistas.
O facto de o governo norte-americano ter congelado as contas dos generais Manuel Hélder Vieira Dias (Kopelipa) e Leopoldino Fragoso do Nascimento (Dino), acusando-os de roubarem “milhares de milhões de dólares do governo angolano por peculato”, joga a favor de João Lourenço e pode também ser entendido como um aviso de que nenhum dos mais próximos do antigo Presidente está a salvo.
Kopelipa e Dino são dois indefetíveis de José Eduardo dos Santos e por força da decisão de Washington estão numa posição vulnerável e paira sobre eles a espada de Dâmocles.
A própria visita de João Lourenço a José Eduardo dos Santos, realizada a 24 de dezembro, um encontro que a presidência classificou como “um gesto dentro do espírito de celebração do Natal”, pode também ser interpretada como uma prova inequívoca do ascendente do atual inquilino do Palácio da Cidade Alta sobre o seu anterior ocupante.
Com os amigos Kopelipa e Dino amarrados pela acusação dos EUA, as filhas Isabel e Tchizé dos Santos a viverem numa espécie de exílio, e o filho José Filomeno condenado uma pena de prisão de cinco anos, José Eduardo dos Santos, encontra-se praticamente isolado.
A força interna e a fraqueza económica
Esta força interna de João Lourenço, todavia, é insuficiente para enfrentar com tranquilidade as eleições gerais de agosto do próximo ano.
A pandemia de covid-19 teima em não dar tréguas e isso penaliza a economia, dificultando a captação de investimento estrangeiro e a criação de emprego, duas fórmulas para marcar pontos no campeonato da popularidade.
Ou seja, é previsível que, por via de um quadro de carências, aumente o descontentamento popular em relação ao MPLA e isso dê ânimo redobrado à oposição, liderada pelo presidente da UNITA, Adalberto Costa Júnior.
A par disso, uma geração nova de eleitores, para a qual a guerra é uma memória distante, aumenta a incerteza eleitoral.
O caminho de João Lourenço faz-se entre uma perceção externa favorável, algum descontentamento popular e condições económicas internas adversas. A importância que cada uma destas componentes ganhar em 2022 será determinante para o seu futuro político.