O Presidente angolano disse hoje, em Dakar, Senegal, que Angola “não poupa nenhum esforço ao seu alcance” para contribuir para o fim de conflitos no continente africano, face à sua “experiência e história recente”.
João Lourenço, que se deslocou domingo ao Senegal, a convite do seu homólogo senegalês, Macky Sall, discursou hoje no Fórum de Paz e Segurança, que decorre em Dakar sob o lema: “África face aos choques exógenos: desafios de estabilidade e de soberania”.
“Este espírito está sempre presente e agora com responsabilidades acrescidas por nos ter sido concedida por Vossas Excelências na Cimeira de Malabo, de maio do corrente ano, a tarefa de promover ações e iniciativas que concorram para o reforço da compreensão e da reconciliação nacional a nível do continente”, referiu João Lourenço.
O chefe de Estado angolano considerou importante um trabalho de forma mais coordenada com as organizações regionais e a União Africana, para que as iniciativas que venham a ser empreendidas conduzam a resultados efetivos e capazes de ajudar a restabelecer a confiança, a paz e tranquilidade, a ordem e segurança necessárias ao progresso e desenvolvimento de África.
Segundo João Lourenço, prevalecem em todas as regiões do continente africano conflitos de natureza e origem diversa, o que deve ser revertido “a todo o custo”.
O Presidente angolano reconheceu que há importantes iniciativas que se vêm desenvolvendo ao nível regional e continental, com o propósito de se contribuir para a cessação dos conflitos que ainda perduram, destacando as que têm sido empreendidas pelas diferentes organizações regionais.
“Destacamos aqui as ações que se têm vindo a empreender no âmbito da Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos (CIRGL), um mecanismo prático que tem funcionado bem e se tem revelado útil no que concerne ao acompanhamento dos problemas que afligem a sub-região da África Central, designadamente o conflito fronteiriço entre o Ruanda e a República Democrática do Congo, entre o Uganda e o Ruanda, e o que subsiste na República Centro Africana”, apontou.
João Lourenço expressou “com certa esperança que, apesar de se verificarem ainda algumas ocorrências preocupantes, também se observam sinais encorajadores quanto à probabilidade de se restabelecer a confiança entre as partes e, em função deste clima, dar-se continuidade ao diálogo encetado entre os países irmãos implicados no processo de pacificação que decorre na sub-região”.
A situação do terrorismo em Moçambique, nos países do Corno de África e da Região do Sahel, assim como os sucessivos golpes de Estado nos países da África Ocidental “que, infelizmente, nem sempre têm encontrado uma vigorosa resposta para desencorajar a continuação de tais práticas que violam gravemente a Carta da União Africana, a Constituição e os princípios básicos da democracia dos países em causa, foram igualmente enumerados por João Lourenço.
“Esta prática não constitui solução para nenhum problema interno que prevaleça em cada um dos nossos países, devendo merecer de todos nós uma reação vigorosa, assente numa política de tolerância zero, relativamente às instituições e figuras saídas de golpes de Estado”, defendeu o Presidente angolano.
De acordo com João Lourenço, “as mudanças inconstitucionais, mesmo ali onde não houver derramamento de sangue, não podem ser encaradas como algo normal e ficar-se à espera da vontade dos golpistas para o regresso à normalidade constitucional, quando e se os golpistas assim o entenderem”.
“O conflito armado na região do Tigray, na Etiópia, não pode cair no esquecimento, deve continuar a merecer a nossa permanente atenção, deve continuar na nossa agenda até que seja alcançada a paz definitiva”, salientou.
Na sua intervenção, a questão da segurança alimentar em África mereceu também destaque do Presidente angolano, “por ser uma componente importante da paz e da segurança”.
“A escassez de alimentos e de água para consumo humano tem várias causas que os nossos Governos procuram superar com diferentes projetos e programas. Contudo, a seca severa em algumas regiões do continente provoca verdadeiras catástrofes humanitárias, como acontece sazonalmente em alguns países do Sahel, na Somália e parte do Quénia, para citar apenas estes”, frisou.