O Presidente angolano pediu na semana passada, em Addis Abeba, Etiópia, a implementação da Força Africana em Estado de Alerta para fazer face ao que chamou de “intensificação das acções terroristas, do extremismo violento e das mudanças inconstitucionais de governos democraticamente eleitos, resultantes muitas vezes da não-aceitação dos resultados saídos das urnas por parte de alguns concorrentes”.
Ao intervir na 36.ª Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da União Africana (UA), “João Lourenço referia-se à decisão saída da 14ª Sessão Extraordinária da Assembleia dos Chefes de Estado e de Governo sobre o Silenciar das Armas”, realizada em Janeiro.
Esta força, explicou o chefe de Estado angolano, “teria, entre outras, a missão de intervir nos momentos e situações críticas que atentassem contra a estabilidade e segurança de países, regiões e do conjunto do nosso continente, no quadro da arquitetura de paz e de segurança de África”.
Em Angola, o sociólogo João Lukombo Nzatuzola lembra que “uma intervenção militar exige capacidade logística e financeira que permita o desdobramento das forças em tempo útil”, uma realidade que leva aquele académico a manifesta-se céptico quanto à capacidade e disponibilidade de muitos países aceitarem este desafio sob o argumento de que “muitos governos, devido a problemas internos, não têm sido regulares nas contribuições financeiras para a UA”.
O jornalista Ilídio Manuel diz, por sua vez, que algumas rebeliões que se registam no continente resultam de “eleições fraudulentas e de golpes de estado constitucionais”.
“Resultam da falta de eleições democráticas e de forças armadas apartidárias com capacidade logística e intervenção em tempo útil para desfazer um golpe de Estado militar”, assinala Manuel, para quem, “a nível de África, o Presidente João Lourenço não constitui um exemplo nesse domínio”.
Para o investigador Francisco Tunga Alberto, muitas rebeliões em África são armadas pelos mesmos países que vendem armas aos governos.
“De dia dão arma ao Governo e de noite dão aos rebeldes”, acusa Tunga.
“Quem são os rebeldes e qual é origem das rebeliões”, interrogou-se aquele investigar que defende “diálogo entre os irmãos” para se dirimir as causas que estão na origem dos conflitos internos e não o uso das armas.
Para o Presidente angolano “as ameaças de instabilidade decorrentes destas tendências socioeconómicas deveriam requerer iniciativas políticas pragmáticas no quadro das perspectivas da paz e segurança do continente para 2023”.
Ele disse que Angola está preocupada com “o facto de África continuar a viver uma grave crise económica e social, agravada pela pandemia da covid-19 e pelos efeitos dos conflitos políticos, da intolerância religiosa, étnica e cultural e da fragilização das instituições do Estado”.
Por outro lado, são necessárias “soluções pragmáticas e sustentáveis” já decididas pela UA, que “seguramente ajudarão a prevenir o terrorismo e a desencorajar os golpes de Estado que se vão tornando comuns, frequentes e banais em África”.
Presidente angolano João Lourenço pediu na Cimeira da União Africana a operacionalização da força, cuja decisão de criação foi tomada em Janeiro.