O presidente do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), Akinwumi Adesina, mostrou-se hoje confiante de que África vai conseguir evitar a crise alimentar iminente, com o apoio de um plano de emergência de 1,5 mil milhões de dólares.
Anunciado na sexta-feira à noite, o Plano Africano de Produção Alimentar de Emergência, promovido pelo BAD e pela Comissão da União Africana, no valor de 1,5 mil milhões de dólares (1,4 mil milhões de euros) irá beneficiar 20 milhões de agricultores com sementes e fertilizantes, bem como outros insumos agrícolas para produzir 38 milhões de toneladas de alimentos, no valor de 12 mil milhões de dólares (11,2 mil milhões de euros).
Isto incluirá 11 milhões de toneladas de trigo, 18 milhões de toneladas de milho, seis milhões de toneladas de arroz e 2,5 milhões de toneladas de soja.
“Podem perguntar-me porque estou tão confiante de que conseguiremos evitar uma crise alimentar iminente? É porque o nosso plano se baseia no trabalho incrivelmente bem sucedido do BAD através do seu programa ‘Prioridade Estratégica ‘Alimentar África’”, disse Adesina num encontro com jornalistas no primeiro dia dos Encontros Anuais do BAD, que decorrem em Acra até sexta-feira.
Este programa já beneficiou mais de 76 milhões de agricultores com acesso a tecnologias agrícolas, disse o presidente do BAD, acrescentando que o banco tem também em curso um programa de tecnologia agrícola “Tecnologias para a Transformação Agrícola de África” (TTAA).
Adesina elencou alguns exemplos de sucesso deste programa, que já distribuiu sementes resilientes ao clima a 12 milhões de agricultores em 27 países em apenas dois anos.
Exemplificou com o caso da Etiópia, onde o TTAA financiou o fornecimento de 61 mil toneladas de sementes de trigo tolerantes ao calor, permitindo aumentar a extensão de área cultivada de 5.000 hectares em 2018 para 167.000 hectares dois anos depois e para 400.000 hectares este ano.
“O primeiro-ministro Abiy Ahmed da Etiópia disse-me na semana passada: ‘A Etiópia não importou trigo este ano. No próximo ano vamos cultivar 2 milhões de hectares e esperamos exportar pelo menos 1,5 a 2 milhões de toneladas de trigo para o Quénia e o Djibuti no próximo ano’. Simplesmente incrível”.
O Plano Africano de Produção Alimentar de Emergência visa responder aos desafios que a guerra na Ucrânia provocou em África, “especialmente em termos dos elevados preços da energia, elevados preços dos fertilizantes e perturbações nas importações de alimentos”, explicou Adesina.
“Com 30 milhões de toneladas de importações de alimentos, especialmente trigo e milho, que não chegarão da Rússia e da Ucrânia, África enfrenta uma crise alimentar iminente”, lembrou o banqueiro, para justificar a iniciativa do BAD.
Para Adesina, “África não precisa de tigelas nas mãos. África precisa de sementes na terra. África não deve implorar por alimentos, deve produzir os seus próprios alimentos. Não há dignidade em implorar por alimentos”.
Referindo-se ao tema dos Encontros Anuais em curso, “Alcançar a Resiliência Climática e uma Transição Energética Justa para África”, o Presidente do Banco lembrou que as alterações climáticas são uma ameaça sempre presente para África, com secas, inundações e ciclones a devastarem as economias africanas.
“Nove dos 10 países mais vulneráveis às alterações climáticas estão em África, (…) a segunda região mais vulnerável às alterações climáticas do mundo”, disse.
Segundo Adesina, África precisa de entre 1,3 e 1,6 biliões de dólares (1,2 e 1,5 biliões de euros) para lidar com as alterações climáticas entre 2020 e 2030, mas só recebe 3% dos fundos globais para as alterações climáticas.
O financiamento climático mobilizado globalmente fica aquém das necessidades da África em entre 100 e 127 mil milhões de dólares (93 a 119 mil milhões de euros) por ano entre 2020 e 2030, sublinhou.
“O desafio que enfrentamos é mobilizar mais recursos para as alterações climáticas em África. Os países desenvolvidos devem cumprir a sua promessa de fornecer 100 mil milhões de dólares (93 mil milhões de euros) por ano em financiamento climático para apoiar os países desenvolvidos”, apelou ainda.