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Sanções à Rússia podem provocar “despedimentos em massa” no sector dos diamantes em Angola

Sindicalistas angolanos afectos à indústria extractiva alertam para eventuais despedimentos em massa no sector dos diamantes devido às sanções que pendem sobre a empresa russa de produção de diamantes, Alrosa, a maior companhia de diamantes do mundo e um dos maiores investidores na produção angolana. A produção já enfrenta falta de peças e também o banco VTB sente o peso das sanções.

A companhia russa controla 32,8% da mina de diamantes da Catoca, juntamente com a Endiama (também com 32,8%), sendo a maior accionista na quarta maior mina de diamantes do mundo.

“Será uma uma situação catastrófica para as províncias da Lunda Norte e Lunda Sul, onde já há bastante desemprego” afirma o sindicalista Francisco António Jilo, afecto à Sociedade Mineiras Limitada (Luminas).

Por seu lado, o sindicalista Victor Aguiar, igualmente ligado à indústria mineira, diz que, diante das sanções impostas à companhia russa e suas associadas em Angola, não restará outra alternativa que não o despedimento de pessoal “por causas objectivas” e apelou o Governo a proteger os trabalhadores angolanos.

“Quem deve evitar que não haja despedimentos é o Governo. Fundo de maneio nestas empresas não existe”, reforça.

Por sua vez, o também sindicalista e antigo trabalhador mineiro Miguel Alberto diz acreditar que com as sanções impostas, “a empresa Alrosa vai fechar a sua actividade no país”.

Outros efeitos

As sanções impostas pelos Estados Unidos e países ocidentais à Rússia já estão afectar não só a empresa Alrosa, mas também a Sociedade Mineira de Catoca (SMC), uma subsidiária da companhia angolana de Diamantes (Endiama), soube, nesta terça-feira,15, a VOA, de fonte ligada à indústria de diamantes.

A fonte, que preferiu não ser identificada, afirma que começaram a faltar peças sobressalentes e máquinas que eram fornecidas por empresas da Bielorrússia, outro país afectado pelas sanções dos Estados Unidos e da União Europeia “ e até cidadãos russos com cargos de direcção já estão a sentir os efeitos das sanções”.

A empresa, que integra técnicos e engenheiros russos e ucranianos, estaria a pensar recorrer ao mercado sul-africano na tentativa de contornar a falta de peças.

A VOA tentou, sem sucesso, ouvir a versão oficial das empresas Alrosa e Endiama.

A Alrosa é responsável por 90% da produção de diamantes da Rússia, que representa, por outro lado, 28% da produção global.

As sanções americanas aplicadas a 24 de Fevereiro abrangeram a empresa Alrosa que assim se viu privada de aceder ao capital estrangeiro, participar em transacções financeiras e ter os seus bens em países ocidentais congelados.

Como é que isto poderá afectar as operações da Catoca e portanto da Endiama permanece por esclarecer já que nem a companhia russa, nem a Endiama ou o Governo angolano se pronunciaram sobre a questão.

Banco VTB África também já sente as sanções

Por outro lado, o banco VTB África, de capitais russos e angolanos, anunciou recentemente que foi igualmente afectado pelas sanções e recomendou aos cerca de quatro mil clientes, dos quais 450 empresas, incluindo várias do sector mineiro, que se abstenham de realizar operações e pagamentos em dólares e euros através desta instituição bancária em Angola.

O presidente do conselho de administração do VTB África, Igor Skvortsov, recomendou, numa nota dirigida aos clientes, que se abstenham de realizar operações para o recebimento de receitas de exportação, operações cambiais, pagamentos internacionais de importação de bens e serviços, bem como o pagamento de salários aos funcionários expatriados.

“Este novo pacote de sanções permite ao banco participar de operações que normalmente ocorrem e são necessárias para o encerramento de operações, contratos ou outros que estavam em vigor até à data de imposição das mesmas” refere, contundo, o presidente do VTB África.

A nota informa que o banco continua a prestar os principais serviços financeiros bancários, mantendo o elevado nível de liquidez e de capital.

O dirigente russo referiu que “as restrições adoptadas não afectam a segurança e a disponibilidade dos recursos dos clientes em moeda nacional” e que o banco “está a envidar os seus melhores esforços para garantir a segurança e a salvaguarda dos interesses dos seus clientes, de forma a protegê-los de eventuais perdas”.

Igor Skvortsov reiterou que “o Banco BTV África está na busca de uma solução duradoura para a presente situação, que nos possibilita o retorno à normalidade, no que concerne à continuidade da prestação de serviços e a disponibilidade de produtos bancários de elevados níveis, a que já habituamos os nossos estimados clientes e que são de uma referência no sistema financeiro angolano”.

 

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