Com a colocação dos outros dois rostos da Frente Patriótica Unida, líder da oposição (ACJ) agrega aritmeticamente mais de 64% das escolhas dos eleitores. João Lourenço é penalizado pela “percepção” de incumprimentos das promessas eleitorais.
Adalberto Costa Júnior, o recém-eleito presidente da Unita, lidera a preferência dos eleitores para a disputa de 2022, com 53,42% de votos expressos, superando em mais de 23 pontos percentuais o candidato do MPLA, João Manuel Gonçalves Lourenço, que se segue com 30,14%.
Os dados constam da mais recente sondagem da AngoBarómetro e revelam-se muito próximos dos resultados difundidos em Agosto último, quanto à preferência dos eleitores pelos partidos políticos. No inquérito passado, divulgado há pouco mais de três meses, o maior partido na oposição liderava as escolhas dos angolanos com 58,17%, face aos 35,17% do partido no poder.
Na nova sondagem, realizada entre 23 e 30 de Novembro e que se concentra, entre outros, nas lideranças políticas, Adalberto Costa Júnior e João Lourenço são seguidos de Abel Epalanga Chivukuvuku, coordenador do projecto PRA-JA, com 8,22%, ao passo que Benedito Daniel, presidente do PRS, reclama a quarta posição com 4,11%. Filomeno Vieira Lopes, que, em Julho, rendeu Justino Pinto de Andrade na liderança do Bloco Democrático, é o quinto colocado com 2,74%, o dobro dos 1,37% do último nas preferências, o presidente da CASA-CE, Manuel Fernandes.
Somados os votos do conjunto das lideranças da Frente Patriótica Unida (FPU), os analistas concluem que Adalberto Costa Júnior congrega, aritmeticamente, mais de 64% das preferências, sendo também apontando como o principal beneficiário da queda de popularidade de Abel Chivukuvuku.
“Relativamente à Frente Patriótica Unida, cujos meandros ainda estão por decifrar, 53,42% dos inqueridos estão favoráveis à permanência da UNITA nela para aumentar as probabilidades da alternância política em 2022, enquanto 19,18% desejaria que o Partido fundado por Jonas Malheiro Savimbi abandonasse esta iniciativa e lutasse sozinho para a conquista do poder em 2022 e 27,40% está sem opinião sobre a matéria”, lê-se no relatório.
Quanto aos baixos níveis de popularidade de João Lourenço, os pesquisadores da AngoBarómetro admitem que podem ser explicados pela “percepção” de incumprimento das promessas eleitorais, associada à “difícil” situação económica e social da maioria dos angolanos e ao “desgaste” da governação. Aliás, questionados sobre o desempenho global de João Lourenço, a nove meses do fim do seu mandato, 65,75% dos inquiridos são de opinião que o Presidente da República “não cumpriu as suas promessas eleitorais”, contra 15,07% que acreditam ter havido uma melhoria da situação económica e social dos angolanos, proporção abaixo dos 19,18% que se manifestaram indecisos.
“Uma outra razão justificativa da queda da quota de simpatia do Presidente da República reside no facto de ter sucumbido à estratégia de manutenção do poder, ao promulgar uma Lei eleitoral reprovada não só por todos os partidos políticos com representação parlamentar, mas sobretudo pela sociedade que, de uma forma geral, censura e considera a Lei ora aprovada, como meio legal para a legalização de possíveis irregularidades e fraudes”, escrevem os analistas da AngoBarómetro, no mesmo relatório em que assinalam “flutuações”, quanto à alternância política em 2022.
Contrariamente aos 73,04% dos eleitores que acreditavam na mudança em Agosto deste ano, em Novembro este indicador caiu “drasticamente” para 53,51%, depois de ter subido para os 81,44% em Outubro. A redução “significativa” é, segundo os analistas da AngoBarómetro, justificada com a “incerteza que pairava” quanto ao futuro de Adalberto Costa Júnior e da FPU.
Como consequência, pelo menos, 28,69% dos inqueridos não acreditam na mudança por pensar que “o regime tudo faria para se manter no poder”. Os indecisos ficaram-se pelos 17,80%.
Debates, Sim, e Lei Desaprovada
Cerca de 85% de um universo representativo de 1.095 eleitores consideram que os candidatos à Presidência da República, no próximo ano, devem sujeitar-se a debates (televisivos e radiofónicos). Na opinião destes, os debates ajudariam, sobretudo, no conhecimento dos cabeças-de-lista, argumento do qual discordam 11% dos inqueridos para os quais o frente-a-frente “em nada alteraria a opinião do eleitor”. Os restantes 4% mostraram-se indecisos.
Sobre a nova Lei Orgânica das Eleições Gerais, aprovada pelo MPLA e promulgada por João Lourenço, as críticas não são menos expressivas. Pelo menos, 69,86% dos inqueridos não concordam com a decisão que legaliza o apuramento dos votos a nível central e elimina o apuramento municipal. Apenas 19,18% concordam com a aprovação do documento pela maioria do MPLA e 10,96% são indecisos. Sobre “se a lei eleitoral garante a realização de eleições justas, livres e transparentes, os valores obtidos, apesar de ligeiramente diferentes comparados aos apurados na sondagem anterior, são muito próximos, sendo que 64,38% não acredita na realização de eleições criteriosamente aceitáveis, 20,55% respondeu positivamente e os restantes 15,07% engrossam o grupo de indecisos”, escrevem os analistas, que alertam para a probabilidade de se registarem níveis “elevados” de abstenção, com consequências no enfraquecimento do “processo de democratização”, tendo em conta que “a maioria dos eleitores tem percepção negativa e falta de confiança nos órgãos de apoio às eleições”, com destaque para a Comissão Nacional Eleitoral.
Luanda sempre à frente
Com uma participação de 53,42%, a região de Luanda e periferia colocou-se mais uma vez à frente na pesquisa, situação que os analistas, liderados por Lukonde Luansi e Orlando Ferraz, atribuem ao facto de a capital congregar cerca de um terço da população total, além de ser o centro político e, nessa condição, maior beneficiário de infraestruturas e de redes de comunicação. A região sul posicionou-se de seguida com 12,33%, pouco acima dos 10,96% do norte e do centro. O Leste ficou-se pelos 6,84%, ao passo que a diáspora respondeu por 5,48% dos votos.
A sondagem destaca também o aumento da participação feminina que, desta vez, atingiu os 26%, depois de se ter ficado apenas pelos 15% em Fevereiro deste ano. Os funcionários públicos, por sua vez, dominaram largamente com 41,10% das respostas, seguidos da categoria ‘outros’, com 23,28%. Com 20,55% ficaram os estudantes; 12,33%, o sector privado e informal e 2,74% os desempregados. Assumindo uma margem de erro de 2%, “calculada com base numa amostra de 12 milhões de eleitores (meta do registo oficioso), seguindo os padrões aritméticos recomendados para o efeito”, o estudo abrangeu angolanos maiores de 18 anos.