Parceria Carrefour e Alimenta Angola, através do seu grupo de advogados, deu entrada, esta segunda-feira, 22.11, da contestação ao concurso de exploração e gestão da rede de hipermercados e supermercados Kero.
Descontente com o anúncio do vencedor do concurso público para a exploração e gestão de 12 lojas da rede de hipermercados e supermercados Kero, antes sob domínio do grupo Zahara, a parceria Carrefour e Alimenta Angola contesta a decisão a favor do grupo Anseba.
Fonte próxima ao processo avança ao Valor Económico que um dos argumentos que sustenta a contestação é o facto de o vencedor não ter qualquer experiência na gestão de supermercados. “Temos um know-how, tanto os parceiros brasileiros e franceses, mas o Governo decidiu dar a alguém que não tem know-how”, contesta.
“A notícia do vencedor surgiu como um balde de água fria para a parceria franco-brasileira”, explica a fonte, argumentando que a Carrefour e o Alimenta Angola confiavam num resultado favorável, pela experiência acumulada de ambos no sector, face ao concorrente, e que já se encontravam a viabilizar a contratação de funcionários. Ainda assim, a fonte acredita numa eventual mudança de decisão das entidades promotoras do concurso público,“diante do exposto na contestação”.
Apesar de não constar na contestação, a fonte suspeita que, por detrás da escolha da empresa liderada por cidadãos de nacionalidade eritreia e alemã, existam interesses do titular do ministério da Indústria e Comércio, argumentando que a empresa já teve, na estrutura accionista, figuras, alegadamente, próximas ao ministro.
No entanto, o Ministério nega existir qualquer interesse de Victor Fernandes na Anseba, declarando que não intervém directamente na escolha do vencedor, tarefa que é atribuída ao Instituto de Gestão de Activos e Participações do Estado (Igape). Por sua vez, o Igape assegura que o processo “ainda decorre” e a decisão do relatório de avaliação preliminar, que dá vitória à Anseba, poderá alterar com base em argumentos de irregularidades expostos na contestação. Ou seja, explica que “não há, por enquanto, vencedores”.
A Anseba, fundada por empresários de origem eritreia e alemã com capital de 200 mil de kwanzas, opera no mercado nacional há 10 anos, e tem como objecto o comércio geral e a retalho de materiais de construção e indústria transformadora. De acordo com Diários da República consultados, durante os 10 anos de existência, o grupo alterou o pacto social duas vezes. A primeira foi em 2016, tendo colocado na estrutura accionista João Tristeza Gaspar Fernandes, Arnito José Agostinho e Ives Fernandes. Todos foram retirados, entretanto, dois anos depois, mantendo entre os accionistas Kalab Woldeselasse Berhe e Yemane Berhe Weldeslassie.
Em 2019, o Instituto Nacional de Defesa do Consumidor (Inadec) suspendeu as actividades do armazém grossista do referido grupo, localizado no mercado do KM 30, por especulação de preços de produtos da cesta básica.
Por sua vez, a Carrefour tem origens francesas, tem várias marcas espalhadas a nível do mundo e é a maior grossista do Brasil. Nesse país, fechou o terceiro trimestre deste ano com lucros equivalentes a 66,9 mil milhões de kwanzas, representando um recuo de 7% face ao período do ano anterior. Ao passo que o Alimenta Angola opera no país há 12 anos, com um investimento acima dos 100 milhões de dólares, e conta com quatro lojas, número que tenciona subir para seis até ao próximo ano. Teve, no primeiro semestre, facturação de 60 milhões de dólares.
O concurso público para a exploração e gestão do Kero foi aberto pelo despacho conjunto n.º 2629/21 de 7 de Julho, dos Ministérios das Finanças e da Indústria e Comércio. Da corrida, participou o então proprietário, grupo Zahara, afastado por incapacidade técnica. O concurso exigia dos candidatos proposta financeira, técnica e corporativa.
Só este ano, este é o segundo concurso público em que está envolvido o Ministério da Indústria e Comércio a sofrer contestação dos participantes. O anterior foi o concurso para a aquisição de 500 viaturas pelo Governo. A Acetro, associação das concessionárias, entendeu que a escolha, em leilão, tinha sido “feita antes”.