Welwitschea ‘Tchizé’ dos Santos usou a rede social Facebook para pedir tréguas para a sua família, defendendo que seja feito “um “restart”, deixando o passado para trás”, pois, segundo a filha do ex-Presidente da República, “mais importante do que buscar culpados é buscar soluções para a melhoria da vida dos angolanos e a estabilidade social”.
Na sua publicação, Tchizé dos Santos recorre a uma imagem retirada de um dos muitos portais que se multiplicam em Angola, sem ficha técnica e com vários textos repescados dos jornais nacionais e internacionais, em que se lê que a batalha judicial entre o Estado angolano e Isabel dos Santos “custa 20 por cento do PIB e mais de 40 mil empregos directos a Angola”.
A filha de José Eduardo dos Santos cita mesmo o ex-vice-Presidente Manuel Vicente- “Nesta guerra não há vencedores” – para depois acrescentar que “quem está a perder é Angola”.
Para a irmã de Isabel dos Santos, há reconciliações que valem a pena, mesmo depois de em Outubro de 2019, o Parlamento ter revogado o seu mandato de deputada e da guerra de palavras que a situação originou, nomeadamente várias queixas nas redes sociais em que afirmava estar a ser alvo de pressões para vender as suas participações em empresas angolanas e se dizia vítima de tentativas de silenciamento.
Já a irmã de Tchizé, a empresária Isabel do Santos, fez saber, em Março, que apresentou num Tribunal Superior de Londres, Reino Unido, provas de que o Governo de Angola elaborou, sob comando do Presidente João Lourenço, uma “conspiração de grande alcance” para usurpar os seus bens e destruir o seu império empresarial.
A assessoria de imprensa da filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, que desde Dezembro de 2019 está sob investigação na PGR angolana, tendo visto, no mês seguinte, em Janeiro de 2020, o seu nome envolvido no caso “Luanda Leks”, onde 715 mil ficheiros pirateados expõem alegados esquemas ilegais para se apoderar de meios e bens do Estado angolano, anunciava ainda no comunicado que o tribunal londrino recebeu gravações áudio e vídeo” que “revelam a conspiração do Governo angolano para apreender ilegalmente” os seus bens e destruir o seu império empresarial.
Uma conspiração que, segundo um comunicado enviado às redacções pela assessoria de imprensa da empresária, visou ainda “acusar, difamar e isolar ilegalmente Isabel dos Santos, permitindo assim ao Estado angolano confiscar ilegitimamente os seus bens”.
As declarações de Isabel dos Santos tiveram respaldo, logo no dia seguinte, pela voz do próprio Presidente da República, que, sem nunca se referir á empresária, disse, na cerimónia solene de abertura do ano judicial, que há “forças internas e externas” ligadas aos que delapidaram o erário público que estão a organizar “uma campanha” que visa denegrir e desacreditar a justiça e o Estado angolano.
Segundo o Chefe de Estado, “os que vêem o seu castelo desmoronar de forma inexorável” tentam defender os seus interesses e procuram reverter a situação fora dos tribunais.
“Pretendem ser eles a comandar a acção da justiça angolana, envolvendo o chefe de Estado a ponto de determinarem quem deve ser indiciado. É evidente que isto está à partida condenado ao fracasso”, declarou João Lourenço, garantindo ainda que a justiça angolana vai cumprir o seu papel e que “o Presidente não vai interferir em violação da Constituição, como pretendem que o faça”.
Ontem, foi a vez de o Procurador-Geral da República (PGR) falar sobre o “caso Isabel dos Santos, para dizer que a empresária “é livre de dizer aquilo que achar conveniente para a sua defesa”.
Para o Procurador-Geral da República, a “morosidade” do processo que envolve a empresária Isabel dos Santos é normal e decorre também das limitações impostas pela Covid-19.
“Os processos não se investigam em seis meses e nem em um ano, esse é o tipo de crimes pela sua complexidade levam muito mais tempo, são muito mais morosos. Requerem também muita intervenção da cooperação internacional a solicitação de exames, de perícias, de documentação”, afirmou.
A PGR angolana aponta como estando em dívida de Isabel dos Santos para com o erário público mais de 5 mil milhões USD, tendo pedido a colaboração internacional para perseguir a recuperação destes activos, o que levou, por exemplo, a que em Portugal, país onde a empresária fez mais investimentos em aquisições empresariais, as suas contas e bens fossem congelados e “recuperados”.
Recorde-se que João Lourenço esteve no Dubai, onde há cerca de dois anos vive Isabel dos Santos, em Março, numa visita privada.
É ainda o local de presença habitual do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, especialmente depois da morte de Sindika Dokolo, o seu genro, em Outubro do ano passado, havendo ainda notícias que apontam para estadias prolongadas no Dubai do antigo vice-Presidente Manuel Vicente.