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Ucrânia: Angola reduz “venda de dívida” nos mercados de títulos com aumento do preço do petróleo

Guerra na Ucrânia leva primeiro ministro italiano a Luanda para procurar acordos de fornecimentos de gás. Membro da oposição quer saber como vão ser gastos os excedentes.

O aumento dos preços do petróleo vai permitir que Angola reduza venda de dívida nos mercados de títulos em muitas centenas de milhões de dólares.

Essa poupança entretanto está a levantar perguntas sobre como será gasto esse dinheiro e avisos que o aumento tem também algum impacto negativo na economia angolana dependente de importações para quase tudo.

“Angola tinha planeado angariar este ano fiscal 2.800 milhões de dólares no mercado de títulos e este mês já tinha vendido com grande sucesso 1.750 milhões de dólares em titulos do tesouro em Euros, os chamados eurobons”.

A agencia de notícias Bloomberg citou uma entidade do Ministério das Financas de Angola como tendo dito que o aumento do preço do petróleo significa que de momento o país não precisa de contrair mais empréstimos pelo que a venda dos restantes 1.050 milhões de euros foi suspensa.

A Bloomberg disse que quando Angola decidiu emitir 2.800 milhões de dólares em títulos, a transação foi feita na base do petróleo na altura estar a ser vendido a 59 dólares o barril.

Hoje o petróleo foi vendido a 107 dólares o barril.

Para além disso, “o aumento da inflação nas grandes economias mundiais e a possibilidade dos bancos centrais dessas economias começarem a aumentar substancialmente as taxas de juro fizeram aumentar os custos de empréstimos por parte dos países que buscam fundos através da venda de títulos“.

Angola vendeu 1. 750 milhões de títulos no passado dia 7 de Abril atraindo então propostas de compra para o dobro dessa quantia

A fonte do Ministerio das Financas citada pela Bloomberg disse que Angola vendeu esses títulos “e foi só isso e nada mais, mesmo que haja apetite para mais”.

O Ministério das Financas continuará a monitorizar os mercados de títulos, disse a mesma fonte.

Receios de que o Governo use o excedente para fins eleitorais

O presidente do Bloco Democrático, Filomeno Vieira Lopes, membro da Frente Patriótica Unida (FPU), e economista avisa que esses fundos podem ser usados pelo Governo sua campanha eleitoral recordando que isso é totalmente controlado pelo Presidente João Lourenço.

“É uma forma de concorrência desleal em ano de eleições, gasta-se dinheiro, fundos para fins meramente eleitoralistas”, disse acrescentando prever que os fundos sejam gastos “em despesas correntes, quando temos necessidades de grandes investimentos que demoram tempo a criar impactos”.

“Há desperdício, primeiro porque são deturpadas as regras democráticas, depois, o outro, meramente económico”, afirma.

“Todo este excesso é gerido exclusivamente pelo Presidente e a grande questão é porquê não são aplicados de uma maneira mais consensual”, acrescenta aquele político.

O empresário Edgar Oseias, ligado ao sector dos transportes, concorda que o excdente deve ser investido fazendo notar também a recente valorização do kuanza.

“Por enquanto, temos aumento do poder de compra, com os kuanzas temos mais dólares do que a situação anterior, e era a fase de comprar alguma autonomia, importando máquinas, nunca carros caros para particulares”, disse acrescentando que “por via do Estado deveríamos canalizar para ajudar o empresariado que queria abrir fábricas”.

Sinais de transparência

Angola ficará a conhecer dentro de dois meses o resultado do processo de adesão à Iniciativa de Transparência nas Indústria Extractivas (ITIE), uma plataforma internacional de promoção de transparência na indústria extractiva.

Isto faz levantar a possibilidade de uma indústria e de um Governo mais transparente como admite Vieira Lopes.

“Os países devem declarar tudo aquilo que recebem de rendimentos petrolíferos e também as empresas devem declarar tudo o que pagam aos países e assim Angola dá mostras de que pretende maior transparência nas suas contas petrolíferas”, afirma aquela economista.

Ainda sobre a alta do preço do petróleo, Jorge Dombolo, membro do Bureau Político do MPLA, em entrevista recente, sublinhou não ter dúvidas de que as receitas do excedente venham a dinamizar a economia nacional.

Itália quer gás angolano

Por outro lado, o primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, deve vistar Angola a 20 ou 21 deste mês e durante a sua estada em Luanda pode fechar novos acordos de fornecimento de energia, visando reduzir a dependência do seu país do gás proveniente da Rússia.

A informação é avançada pela agência Reuters, que cita duas fontes credíveis.

Draghi, que chefiará uma delegação que deverá incluir o ministro da Transição Ecológica, Roberto Cingolani, e o presidente empresa de energia ENI, Claudio Descalzi, visitará também a República do Congo.

Nesta segunda-feira, 11, o chefe do Governo italiano esteve na Argélia e fechou um acordo para aumentar as importações de gás do país magrbino, o maior produtor africano, em 9 bilhões de metros cúbicos em 2023-24.

A Itália recebe cerca de 40% das suas importações de gás da Rússia e

A empresa ENI, controlada pelo Estado, o maior produtor estrangeiro de energia em África, está a construir duas centrais de produção de gás natural liquefeito na República do Congo que podem fornecer 5 bilhões de metros cúbicos de gás natural liquefeito (GNL) quando estiverem totalmente operacionais.

A empresa possui também activos de em Angola, onde recentemente assinou uma “joint venture” com a BP.

Uma fonte do Governo italiano disse que Angola poderá disponibilizar cerca de 4 bilhões de metros cúbicos por ano de GNL dentro de alguns anos.

A ENI desenvolve também uma planta flutuante de GNL em Moçambique que deverá iniciar a produção dentro de alguns anos.

Guerra na Ucrânia também traz problemas económicos a Angola

Apesar dos enormes benefícios do aumento do preço do petróleo e gás, a economia angolana tem também problemas com a guerra na Ucrânia.

O ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás, Diamantino Azevedo, disse nesta quinta-feira, 14, em entrevista a Rádio Nacional de Angola, que o país importa “cerca de 80% do produto consumido em Angola e para além das consequências da guerra porque somos um país que conhece bem esta realidade e nao gostaríamos de desejar guerra a nenhum povo, para um país como nosso mono dependente do petróleo tem que suportar vastas consequências”.

Para professor universitário e especialista em relações internacionais Osvaldo Mboko as economias estão integradas e os fluxos de negócio entre Rússia e Angola são vastos as sanções impostas Rússia também afectam o país.

Mboko fez notar que “temos empresas a operarem no território angolano que estão sob sanções”.

 

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