A eurodeputada Isabel Santos não poupa a governação de João Lourenço em Angola, questionando a atuação da UE no país. Se Luanda tivesse ido mais longe nas reformas, diz, um “núcleo de interesses se rebelaria”.
A eurodeputada Portuguesa Isabel Santos do PS disparou hoje fortes crítica sobre o estado atual da situação em Angola. As mudanças anunciadas com a chegada ao poder de João Lourenço, passados mais de três anos, estão muito longe de corresponder aos anseios da população e às expetativas da comunidade internacional:
“A mudança de liderança política em Angola, em 2017, não conseguiu cumprir com as expetativas de reforma profunda que o país necessitava e o povo ansiava depois de quase quarenta anos de governação autocrática”. Para Isabel Santos, “pelo contrário”. “Manteve-se a tipologia do sistema político e a ambiguidade constitucional que o carateriza. E mantiveram-se, também, a crise económica e social e os abusos entre poderosos, que colocam o país no fundo dos índices de referência a nível global”.
A eurodeputada portuguesa está preocupada com “o recurso à força excessiva e desproporcional pelas forças de segurança” que, entende, “fragiliza igualmente o quadro dos direitos humanos em Angola”. Para mais, ao abrigo do cumprimento do estado de emergência, “há relatos preocupantes de episódios em que a ação policial redundou em mortes de civis”.
A eurodeputada portuguesa enviou duas questões por escrito ao vice-presidente da Comissão, Josep Borrell, responsável pela política de ação externa da UE: “qual é a posição da delegação da UE em Angola nomeadamente na defesa dos direitos humanos perante a forma como estes atos recentes se têm vindo a desenvolver e a que conclusões se chegou e que medidas concretas foram acordas no âmbito do encontro anual entre o Ministério da Justiça de Angola e a delegação da UE que ocorreu a 17 de novembro do ano passado?”.
Isabel Santos explica o desfasamento entre as expetactivas e a realidade em Angola com o perfil do próprio presidente da república: “João Lourenço não foi um oposicionista a José Eduardo dos Santos. É um homem que vem do governo do anterior presidente. É um homem que, ao longo da sua vida, desempenhou alguns cargos de relevância dentro da estrutura do MPLA”.
Além disso, na opinião da eurodeputada socialista, o chefe de estado angolano “fez um investimento grande no afastamento da família de José Eduardo dos Santos e de alguns homens do seu núcleo de interesses, de posições de poder em Angola, mas há ainda um vasto núcleo de homens do regime que continuam e continuarão a lutar por manter o poder político e o controlo dos interesses em Angola”.
E não tem dúvidas: “se, porventura, João Lourenço tivesse a veleidade de ir um pouco mais longe nas reformas, estou certa de que esse núcleo de interesses se rebelaria e colocaria em causa o poder de João Lourenço”.