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Angola: “Falsa luta contra corrupção” volta a levar angolanos às ruas de Luanda

Cidadãos angolanos concentraram-se neste sábado (21.11), em Luanda, para protestar contra a chamada “falsa luta contra a corrupção”. Manifestantes exigem combate à corrupção “sério” e “imparcial”.

A concentração em Luanda – marcada pela presença de jovens – teve três importantes momentos. O primeiro foi a entoação de cânticos como “Angola Avante” – o hino nacional – e outro, com refrão “o dinheiro é do povo, não é do MPLA”. O segundo momento foi marcado por uma pequena marcha em volta da Praça da Independência seguida, ao final, pela leitura de um manifesto.

A “falsa luta contra a corrupção” foi a tónica dominante da concentração, que começou às 12h (hora local).

Durante o ato, o corpo de defesa e segurança esteve presente nos arredores da Praça da Independência, em Luanda. Houve espaço para se exigir, em cânticos, autarquias em todos os municípios, a condenação da repressão policial e pela morte de um manifestante durante os últimos protestos, que foram violentamente reprimidos pela polícia angolana. Entretanto, os protestos deste sábado (21.11) foram pacíficos.

“Carecemos de tudo”

A exibir um cartaz com dizeres “se não há justiça para o povo, que não haja paz para o Governo”, o jovem Zeu Valentim explicou à DW África as razões da sua participação na manifestação. “Eu sou jovem e vivo muita dificuldade nesse país – não temos oportunidades. Não conseguimos estudar. Não temos emprego. Carecemos de tudo”, desabafou.

Feliciano Lourenço foi outro jovem que se deslocou ao “1º de maio”,  o local onde foi proclamada a Independência angolana pelo primeiro Presidente do país, António Agostinho Neto. “Participo nessa manifestação porque sou cidadão angolano e tenho a obrigação de protestar para que haja mudanças no meu país”.

Durante os protestos, Edeltrudes Costa, director de Gabinete do chefe de Estado angolano, foi um dos nomes mais indicados como exemplo de selectividade na luta contra a corrupção. É considerado como um “cavalo de batalha” do Presidente João Lourenço, desde que esse último chegou ao poder, em setembro de 2017.

“Ele já podia ser exonerado. Nós vimos a reportagem da TVI. Ele está envolvido em escândalo de corrupção. Até hoje, João Lourenço não lhe exonerou, e por qua?”, questionou o jovem Zeu Valentim.

António Domingos também não tem dúvidas sobre a selectividade da “cruzada contra a corrupção”. “A luta contra a corrupção tem sido selectiva. e não tem sido geral porque o chefe de Estado selecciona algumas pessoas para combater a corrupção”, afirma.

Em declarações à imprensa, no local da concentração, Fernando Macedo, docente universitário e um dos cinco organizadores do evento, explicou as razões para a realização da concentração.

“A falta de democracia e de Estado de Direito em Angola levou um grupo pequeno de pessoas a desviar milhões de dólares do Estado, que nesse momento fazem falta aos angolanos e às angolanas. É dizer, para termos educação e hospitais públicos de qualidade. Para termos uma macroeconomia estável e, dessa maneira, um dinamismo que permita que mais empresas sejam criadas, e subsistam para criar mais empregos aos angolanos”.

A manifestação terá efeitos?

Questionado pela DW África sobre os possíveis resultados da manifestação, uma vez que, nos últimos tempos, tem ocorrido protestos nas ruas, com destaque para as manifestações do dia 24 de Outubro e 11 de Novembro, que resultaram na morte do jovem Inocêncio de Matos, Macedo respondeu:

“A manifestação é uma forma de mobilizarmos a opinião pública. E, pelo retorno que temos tido, há milhões de angolanos que exigem um combate sério, não selectivo e eficaz contra a corrupção”.

Ele acrescentou que há milhões de angolanos a exiger que o Parlamento cumpra seu papel de criar comissões de inquérito. “Há milhões de angolanos que exigem autarquias. Os tribunais estão obrigados a castigar aqueles que comentem crimes”, disse.

Além disso, a organização dos protestos diz que está preocupada com suposta luta selectiva contra a corrupção.

“Há milhões de angolanos que preocupados com o facto de o Presidente usar‘dois pesos e duas medidas’ na luta contra a corrupção. Nós exigimos que o senhor Presidente João Lourenço demita o senhor Edeltrudes Costa, porque houve uma denuncia pela TVI de Portugal que apresentou provas que o senhor não é um agente público honesto”, afirma.

Denúncias públicas

Fernando Macedo diz já ter feito denuncias públicas de que o actual Presidente angolano tem participações em instituições financeiras angolanas.

“O Presidente João Lourenço, também já o dissemos, é sócio dos Banco Sol e BAI, já denunciamos isso. Ele tem que começar a dar exemplo daquilo que terá, alegadamente, como os outros, também adquirido ilicitamente”.

No âmbito da organização da manifestação, diz Fernando Macedo, os mentores escreveram ao Presidente da república, a exigir a demissão de Edeltrudes Costa.

Também foi entregue uma carta ao Procurador-geral da República (PGR) angolana, acrescenta Macedo, “a pedir que o mesmo abra um inquérito para apurar responsabilidade criminal e civil ao actual presidente da Comissão Nacional Eleitoral, Manuel Pereira da Silva, ‘Manico'”.

As exigências deste grupo de cidadãos não pára por aqui. Fernando Macedo e outros activistas cívicos também querem que se apure responsabilidade civil e criminal ao ex-Presidente José Eduardo dos Santos, e a sua direcção, que governou país por quase 40 anos.

“Consideramos terem se constituído como uma associação de malfeitores, uma associação de criminosos, porque a práctica copulativa de capitais foi uma coisa decidida pela cúpula do Movimento Popular pela Libertação de Angola (MPLA), foram esses senhores que se beneficiaram e privaram Angola de bilhões de dólares”.

DW África 

 

 

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